22.2.11

Cromos que não descolam

Guardo memórias muito positivas das cadernetas de cromos que coleccionei, há muitos anos atrás.
Recordo-me que, em qualquer caderneta, existiam, sempre, alguns cromos mais raros e que dificultavam o finalizar da colecção: eram cromos raros, mas, bons.
Quando a infância e a adolescência se fartaram de mim, essas cadernetas sumiram da minha vista.
O estranho é que, à medida que isso foi acontecendo, os cromos de papel foram sendo substituídos pelos cromos de carne e osso.
Dizer que Portugal é um pais com muitos cromos, não é novidade para ninguém.
A música, então, é um mundo cheio de cromos…
Sem esquecer os cromos que existem em maior fartura (organizações “manhosas”, intermediários “duvidosos”, etc, etc, etc…), tenho especial aversão a uns, em particular.
Refiro-me aos maus críticos, àqueles que escrevem umas coisas e que destroem outras.
Julgo que todos os trabalhos musicais merecem respeito, mesmo aqueles que são, na minha visão, muito maus.
Ao analisar um novo álbum, é essencial saber “escutar” e saber “avaliar”. Depois, é necessário ter a arte, a sensibilidade e o engenho de colocar, no papel, uma opinião sólida, válida e honesta sobre esse CD.
Redigir críticas discográficas às dúzias, enquanto se realizam reportagens de concertos e entrevistas avulsas, não pode possibilitar tempo suficiente para uma audição de todos os CD’s, sobre os quais se devem emitir opiniões. Nem permitirá que o crítico escute trabalhos anteriores do artista em questão ou que se documente sobre o mesmo, numa busca de informação e de contextualização musical.
Qualquer artista, mais jovem ou veterano, pode ver a sua carreira em cheque por uma crítica menos séria.
O que me preocupa não são as opiniões lúcidas e correctas, negativas ou positivas, mas, tão só, a falta de profissionalismo e de respeito como muitas outras são feitas.
Dizer que um artista veterano está “senil” ou que um grupo novo “devia ir trabalhar nas obras” são opiniões que não pertencem à categoria de “crítica discográfica”.
Seria interessante verificar que formação e conhecimentos musicais possuem tais pessoas…
Pessoas, que aparecem vindas do vazio e que acabam por desaparecer, deixando mau rasto…
Isto porque uma análise negativa, apresentada de uma forma destrutiva, num jornal de grande âmbito, pode ser motivo suficiente para que um grupo, numa primeira edição, veja a sua vida desaparecer.
Estes são os cromos que prejudicam qualquer colecção.
E, ao contrário dos que tinha de colar nas cadernetas, são frequentes e maus.

09 de Outubro de 2003, originalmente publicado no blogue "Canal Maldito".

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