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8.8.09

Um génio de todos os tempos

Não consigo identificar as minhas primeiras memórias do humor na televisão, porém, em 1975, nos tempos do “Sr. Feliz e Sr. Contente”, não perdia um segundo que fosse destas personagens. Fazia esperas televisivas e ansiava pelo momento do início da actuação de Nicolau Breyner e Herman José. Residia na casa onde nasci, na Rua das Lojas, em Santiago do Cacém. Passara pouco tempo da revolução de Abril e estávamos nos tempos da televisão a preto e branco. A qualidade de recepção da RTP1, o único canal de conseguíamos apanhar, era razoável, mas, a RTP2 só mesmo mais tarde e com recurso a amplificadores de sinal. Tudo girava em torno do primeiro canal da RTP e o humor marcava presença regular.

Não faço ideia de quando entrou Raul Solnado na minha vida. É daquelas personalidades que existiam desde sempre e nos deixam marcas e recordações únicas. Quando as Selecções do Reader's Digest lançou a colecção “Super Estrelas da Música Portuguesa” juntou como brinde um álbum com sketchs, suponho que apresentados no histórico “Zip-Zip” (1969). Mesmo com presença constante na televisão e com o sucesso de “A visita da Cornélia” (1977), é desse disco e conjunto de rábulas que me recordo sempre que se fala em Raul Solnado. Houve uma fase em que sabia de cor e salteado alguns desses sketchs e brindava a minha família com alguns momentos de “espectáculo”. Nesse particular, o “Concerto de Violino” era um dos meus preferidos, em que até as inflexões vocais tentava imitar.

Raul Solnado tinha um tipo de humor variado e que conseguia fazer rir às bandeiras despregadas, sem necessidade de recurso a brejeirices vulgares. A argúcia necessária para fazer passar textos na época da censura só pode ter incentivado a sua imaginação e capacidade criativa. O seu humor primava pela inteligência, por uma apurada habilidade de caricaturar a nossa sociedade e por superiores padrões estéticos e artísticos.

Depois de, em 1964, ter fundado (e pago) o Teatro Villaret, Solnado envolveu-se, com sucesso, na luta pela criação e abertura da “Casa do Artista”, obra de grande fôlego que conseguiu levar a bom porto e da qual era Director.

Ainda nesta última madrugada, coloquei um DVD com um documentário sobre a vida de Beatriz Costa. Nele surgia Raul Solnado evocando a memória desse símbolo feminino português do século XX. Hoje, acordo e leio a notícia sobre a sua morte. Com o seu desaparecimento físico, Portugal fica mais pobre e adivinham-se merecidas homenagens nos próximos tempos. Provavelmente, amanhã, estarei presente numa dessas homenagens, num local que Raul Solnado tantas vezes frequentou e que nos liga aos dois. Refiro-me ao Estádio do Restelo, pois, tanto eu como ele somos adeptos do Belenenses.

A pergunta que deixo no ar é simples. Depois de uma vida inteira dedicada à arte de representar, para quando um Teatro com o seu nome?