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8.5.12

UHF - Voo para a Venezuela

Fiz uma pesquisa no google e não descobri a letra deste clássico perdido dos UHF. Aqui fica para memória colectiva!

Voo para a Venezuela

A avenida tem palmeiras dançando
nos meus olhos o teu corpo vibrando
vento forte – marca o desejo
porque tu já cá não estás deitada
no meu quarto (3x)

A revolta torna a crise passageira
velha amiga o teu choro engana
perco os dias – marco as horas
preso ao sabor do teu corpo
no meu quarto (3x)

Fumo espesso no cansaço em chamas
esta vida é um templo de palavras
o silêncio – afoga a memória
o vinho é o fim da história
da mulher que ri
no deserto (3x)

No deserto
[No meu quarto…] (4 x)

24.1.12

Rui Beat Velez - RIP


Rui Rodrigues, António Manuel Ribeiro, Paulo Inácio e Rui Beat Velez.


Guardo no meu museu de memórias o concerto dos UHF na Feira Popular em 1989 com Luis Espírito Santo Martins e Rui "Beat" Velez. Nesse espectáculo ainda se juntou o Renato Gomes como convidado especial. Foi um dos melhores concertos a que assisti - gravado e posteriormente transmitido pela RFM - com uma quebra na electricidade a meio da canção "Hesitar". Rui "Beat" Velez e Luís Espírito Santo continuaram a tocar enquanto o público cantou o refrão até ao regresso da electricidade.
Que descanse em paz!

Alguns grupos a que pertenceu Rui "Beat" Velez:
Banda do Sul, UHF, Junção e Ravel.


A HOMENAGEM DE ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO:

"Conheci o Rui em 1983, uma mola dinâmica por trás da bateria de uma banda que foi a concurso no Rock Rendez-Vous – a Banda do Sul. Vi-os enquanto membro do júri; não seguiram até à final.
Gostei do grupo, aproximei-me deles através da minha namorada dessa altura, colega do liceu. Havia entusiasmo, os sonhos fluíam; a baía de Cascais ainda não produzira os Delfins e já uma espécie de pop/funk enchia uma garagem de Oeiras.
O Rui, de quem me tornei amigo, acabou naturalmente por entrar nos UHF em 1985. Fizemos uma longa digressão entre o final desse ano e meados de 1987, quando saiu do grupo.
Acabaria por regressar em 1989 para a digressão do maxi “Hesitar”, juntando-se ao Pedro de Faro, o baixista fundador da Banda do Sul, que também ingressara nos UHF. Essa foi uma das digressões mais felizes da minha carreira, que reuniu em palco dois bateristas – o Luís Espírito Santo e o Rui ‘beat’ Velez (o ‘beat’ foi baptismo meu).
Dizem os que me conhecem que tenho memória de elefante, e é verdade. Os dias desta carreira parecem-me as páginas de um livro que o tempo mantém disponíveis para folhear. Não sou de lamúrias nem de saudosismos, mas recordo com toda a vivacidade quando o Rui se sentava no lugar a meu lado no carro que eu próprio conduzia, um veloz Ford RS Turbo branco, e seguíamos a cantar as canções que previamente alinhara numa cassete: nesse início de 1989 delirávamos com “Orange Crush” dos R.E.M.
Mais tarde nesse ano, o Rui e o Pedro formaram a Junção, reagrupando o núcleo duro da Banda do Sul e convidaram-me para emprestar a minha voz num dos temas do único LP que gravaram.
O meu amigo partiu no último domingo. É um lugar comum dizer-se que não estávamos à espera da notícia; mas é verdade que não estava. Um dia destes, como ele me disse há uns tempos, haveríamos de tentar outra vez.
Dele guardamos dois magníficos registos que o qualificam como ‘beat’, a mola, um homem em simbiose com as peles e os pratos de uma bateria: “Até às Tantas” (1986), por encomenda do programa “1, 2, 3”, da RTP, mais tarde editado no primeiro volume das Raridades dos UHF (2007) e “Esta Mentira à Solta” do maxi “Hesitar” (1989). Em ambas as canções juntei dois monstros musicais deste país: Renato Gomes e Rui ‘beat’ Velez.
Por um artista que parte soltemos aplausos de agradecimento.

António Manuel Ribeiro"



Um abraço de obrigado ao Paulo Inácio por me ter enviado esta fotografia que pertence ao seu arquivo pessoal.

3.5.11

UHF- Portugal somos nós

O regresso à Aula Magna, 3 anos depois, num momento em que o grupo celebra 33 anos de carreira, fez-se num recinto com muita gente, mas, mesmo assim, sem que tenha estado tão cheio como em 2008. Todavia, começa a ser visível o resultado do intenso trabalho que os UHF têm desenvolvido nos últimos anos e, se no concerto anterior poucas foram as figuras conhecidas do meio musical que marcaram presença, desta feita, eram inúmeras as que estavam espalhadas um pouco por toda a sala. Esta curiosidade acaba por ser natural se pensarmos em tudo aquilo que o grupo de Almada tem feito nestes tempos mais recentes e no surpreendente último álbum de originais. “Porquê?” acaba por ser a cereja no topo do bolo que subiu à mesa, melhor, a um ilustre palco lisboeta, no passado sábado, dia 30 de Abril.

Em críticas anteriores, já tinha referido a coesão, o modo algo telepático como os músicos comunicam entre si, a união que transpira de tantos e tantos anos de vida em conjunto. Os UHF de hoje são a antítese da sofreguidão desenfreada do passado, em que a entrada e saída de músicos era quase tão natural como beber água Castelo nas pausas de uma garrafa de Jack Daniels. Dessa época desregrada da infância e adolescência dos UHF ficaram discos e músicas intemporais. No entanto, foi após atingirem os 18 anos que António Manuel Ribeiro conseguiu estabilizar o comboio, diminuindo drasticamente as mudanças na formação. Foi o momento do renascimento de uns novos UHF que foram, paulatinamente, traçando um percurso ascendente, chegando, agora, a um novo patamar de exigência e de afirmação musical na Aula Magna em Lisboa.

A escolha das canções para o alinhamento do concerto não terá constituído tarefa simples e até as habitualmente ostracizadas canções do período da Rádio Triunfo (1982/85) foram sabiamente recuperadas do fundo de um baú, que se encontrava, felizmente, fechado e conservado em vácuo. Voltar a escutar composições tão belas como “Dança de canibais”, “Voo para a Venezuela” ou “Devo eu” foi como entrar numa cápsula do tempo e cair no meio da beleza, inovadora e pura, dos anos 80. As duas primeiras não seriam tocadas há 20 anos. A selecção das músicas não foi fruto do acaso e a conjugação das mesmas resultou num concerto intenso, forte como aço e onde a emoção nos iluminou ao longo de um breve e longo instante porque tenho consciência de que o espectáculo foi longo, mas não sei ao certo quanto tempo demorou – passou e num abrir e fechar de olhos foi partilhado connosco um lote de quase 30 temas.

“A última prova”, do recente álbum “Porquê?” deu o mote no início do concerto e, de imediato, se escutou o público a entoar as palavras de uma canção que não é single, que não passa nas principais rádios, que não tem nenhum vídeo oficial, mas, que merece ter a oportunidade de ser e de ter tudo isso. As canções foram-se sucedendo com António Manuel Ribeiro a gritar objectivas e cortantes palavras de ordem contra o marasmo em que Portugal e cada um de nós parece ter mergulhado. “Matas-me com o teu olhar”, “Viver para te ver”, “Um copo contigo”, “O vento mudou”, “Cai o Carmo e a Trindade”, “Dança de canibais” e “Estou de passagem” antecederam a entrada em palco do primeiro convidado especial durante o sempre hipnótico “Rapaz caleidoscópio”. Armando Teixeira entrou no palco a erguer o vinil de “À Flor da Pele” e “exigindo” um autógrafo a António Manuel Ribeiro, que, surpreendido, procurou e encontrou uma caneta sob o olhar divertido e deliciado dos restantes músicos e de todos os espectadores. UHF e Armando Teixeira proporcionaram um momento inesquecível com o emergir do excelente “Montra”, que usa um sample do “Rapaz caleidoscópio”. O primeiro momento mais calmo da noite surgiu à décima canção, com a versão acústica de “Sarajevo”, tendo o baterista Ivan Cristiano avançado para a frente do palco, ocupando o lugar deixado livre por Armando Teixeira. “Vejam bem” – em mais uma fabulosa interpretação de António Manuel Ribeiro –, “Voo para a Venezuela”, “Porquê só ela”, “Devo eu”, “Esta dança não me interessa”, “Os putos vieram divertir-se”, “Quero entrar em tua casa”, “Modelo fotográfico” e “Menino” fecharam o alinhamento antes dos encores. O povo pediu mais.

No regresso ao palco, os UHF atacaram “Porquê (português)” para, logo depois, receberem a Tuna Feminina que os acompanhou em “Portugal – somos nós” e na novíssima e inédita “Nevoeiro”, outro tema que pode ser um sucesso comercial. E foi com o sempre deslumbrante “Sonhos na estrada de Sintra” que os UHF saíram de palco em verdadeira apoteose. O público voltou a bater palmas e a gritar por mais.

Num espectáculo que foi sempre em crescendo, os UHF voltaram para fechar a noite com uma tripla de canções de arromba. “Cavalos de corrida”, “Rua do Carmo” e “Menina estás à janela”, provavelmente os três maiores sucessos do grupo, foram vividos em verdadeira apoteose e com um núcleo de fãs a despirem-se, ficando em tronco nu, enquanto agitavam a roupa e se agitavam a eles próprios, numa cadência própria de um concerto de punk-rock.

Os UHF apresentaram um leque diversificado de temas fortíssimos e de todas as épocas da sua carreira. Todavia, “Geraldine”, “Noites lisboetas”, “Concerto”, “Um mau rapaz”, “Persona non grata”, “Puseste o diabo em mim”, “Na tua cama”, “Nove anos”, “Ferir até à dor”, “Hesitar”, “Amélia recruta”, “Este filme”, “Brincar no fogo”, “Comédia humana (parte 1) ”, “Aqui Planeta Terra”, “Velhos amigos”, “A lágrima caiu” ou “Há rock no caís” seriam outras 18 músicas que poderiam pertencer a outro alinhamento de primeiríssima água, o que mostra bem a quantidade de canções de sucesso popularizadas pelos UHF.

Quando foram tocados os últimos acordes da “Menina estás a janela” já toda a gente estava rendida e totalmente exausta. A noite terminou, assim, com uma satisfação imensa estampada na cara de todos os que estiveram presentes. A assistência era constituída, esmagadoramente, por fãs conhecedores da obra dos UHF e foi essa a principal diferença entre o público deste concerto e do espectáculo na Aula Magna em 2008. O grupo parece ter voltado a encontrar uma larga multidão de fãs, fazendo-me recordar o tempo do Rock Rendez-Vous, o tempo da Feira Popular, enfim, outras épocas recuadas, em que os UHF eram os reis do rock português. Neste sábado, assistimos a um salto em frente nesse sustentado caminho que o grupo de António Manuel Ribeiro tem vindo a percorrer rumo ao justo e tardio reconhecimento. Está para breve.



Reacções:

“Ao fim de 30 anos tenho o meu “À Flor da Pele” assinado, finalmente, foi muito bom, gostei muito de estar aqui, foi um prazer muito grande e acho que toda a gente se divertiu e o concerto foi muito bom.” - Armando Teixeira (Balla)

“Eu não estava à espera de tanta gente. Todas as pessoas que vieram são fãs dos UHF. Viu-se a sala completa em quase todas as músicas a cantar, deu para perceber que as pessoas estavam bastante entusiasmadas.” - Rui Leal, fotógrafo

“Já não via os UHF ao vivo há muito tempo, nem sei muito bem precisar há quantos anos, e foi uma surpresa agradável porque, realmente, a banda está em grande forma. O António Manuel Ribeiro continua em grande forma, é um resistente, vem dos anos 80 e gostei, sinceramente, do espectáculo. Acho que esteve com uma energia fantástica.” - Pedro Rolo Duarte


“Foi um belíssimo espectáculo. [“O vento mudou”] foi um momento muito giro, uma canção, 44 anos depois, ter esta vitalidade é sempre giro. Hoje, achei graça porque a Tuna cantou a “Desfolhada”. De maneira que eu ganhei, ganhei duas canções na final (risos). O meu neto e a amiga dele vieram aqui e já temos mais uns fãs e é giro é ver a continuidade destas coisas todas. Foi um grande concerto.” - Nuno Nazareth Fernandes

“Foi um óptimo concerto, sempre em cima, uma grande energia, as pessoas a responderem muito bem a muitas músicas. Sente-se a quantidade de hits que os UHF têm. A banda está muito coesa, estão em grande forma. A sensação que eu tenho é que esta excelente forma, nesta fase mais recente dos UHF, arranca, sobretudo, com o “Há Rock no Cais”.
O António Manuel Ribeiro é um homem de hinos, portanto, hoje viu-se aqui a quantidade de músicas a que as pessoas respondem. Tem capacidade para aquelas mensagens curtas, onde as pessoas se revêem e respondem, como a gente viu esta noite. Ele, neste momento, já está a fazer hinos novos porque, hoje, já ouvimos o “Nevoeiro”, que pode ser mais um hit.
O António Manuel Ribeiro sempre soube muito bem o que é estar em cima do palco. Estou-me a lembrar de espectáculos há quase 30 anos e, de facto, é um bicho de palco, mantém um grande ascendente sobre o público durante todo o espectáculo, prevê o público, tem uma ligação muito forte e esse magnetismo em cima do palco explica a reacção das pessoas.
Aquele final, aquela sequência, “Cavalos de Corrida”, “Rua do Carmo” e “Menina Estás à Janela” é muito forte.”
- David Ferreira

Texto originalmente publicado no blogue Ié-Ié.

Fotografias: Francisco Rosário.

13.3.11

UHF - Assombro e Descoberta

Lançamento do livro "UHF - Assombro e Descoberta" da autoria de Nuno Martins e com a presença de José Marques, Luciano Reis e António Manuel Ribeiro. FNAC do Colombo em 12 de Março de 2011.

10.10.10

A última prova

UHF - Porquê? (2010)

Após a euforia dos anos loucos, com os jipes a tomarem conta de Portugal, numa corrida ao novo “el dorado” em que o dinheiro fácil de Bruxelas foi pródigo, vivemos anos sucessivamente complicados numa sequência que já ultrapassa uma década de cinzentismo. Os sacrifícios vão aumentando – vão aumentar – e a Europa, que nos encheu de dinheiro, nos fez esquecer os bons hábitos da poupança e nos injectou com vícios consumistas, está agora a exigir rigor enquanto os mais ricos se preparam para sugar tudo o que possam. Portugal, em momento dramático, vê o Banco Central Europeu a emprestar, aos bancos, dinheiro a 1% para, depois, esses mesmos bancos, tal agiotas, multiplicarem o rendimento, vendendo-nos a massa a 6%. É assim o inferno europeu, em que, depois de nos pagarem para não produzirmos ou para afundarmos barcos, nos querem deixar sem tanga e escanzelados. A crise chegou à economia, mas, já tinha entrado em áreas sensíveis. As nossas instituições estão descredibilizadas, decadentes, a Justiça é considerada injusta, pantanosa e o povo está farto, cansado, descrente e sem garra para enfrentar o abismo. O naufrágio português está à beirinha e os UHF deram um passo em frente, viajando pela dura realidade do presente, numa abordagem corajosa, destemida, sem papas na língua e adequada a um povo valente e imortal. Foi, aliás, uma gravação premonitória porque os trabalhos de estúdio decorreram ao longo de quase doze meses e a edição surge no exacto momento em que as medidas mais duras foram anunciadas pelo Governo. O efeito de “Porquê?” começa na música e termina em palavras como aquelas que serviram esta introdução.

O novo álbum de estúdio dos UHF quebra um jejum de cinco anos e consegue surpreender pela agressividade, variedade e forma como António Manuel Ribeiro regressa a um estilo de escrita musical de onde tinha semi-hibernado. Faz muito tempo que nenhum artista português se aventurava pela música interventiva, directa, sem refúgios de qualquer espécie. António Manuel Ribeiro deixou de lado alguma contenção e lançou-se numa epopeia em que recupera o dedo em riste, muito próprio dos seus primeiros tempos de compositor, e que lhe granjeou fãs aos rodos e inimigos em quantidade razoável e duradoira.

Ao longo das últimas décadas, o topo do rock português aburguesou-se, começou a comer nos melhores restaurantes, a vestir a melhor roupa, a aparecer nas revistas cor-de-rosa, a dormir em hotéis de 5 estrelas e passou a compor um roque queque para adolescentes bonitos e bem comportados. A situação não é exclusiva de Portugal, recordo-me dos problemas existenciais de Bruce Springsteen após o sucesso de “Born in USA” porque não se sentia confortável a falar da pobreza quando passara a ser rico. Mas, o “Boss” soube seguir o seu rumo. Como homem do rock não se resignou a ser um mero empregado da música. Foi assim que renasceu diversas vezes, uma das quais com o tocante “The Rising”. Em Portugal, temos artistas a lançarem umas bocas em concertos, a gritarem palavras ocas de ordem contra o Governo, seja ele qual for, porque é popular e dá jeito, e a elogiarem a Autarquia que os contratou, por valores obscenos, com o dinheiro dos impostos pagos por todos nós, deixando cair de podre a cultura e o património local.

Com “Porquê?” a revolução está próxima e, se existisse censura, este disco não tinha sido colocado à venda. E, para felicidade de alguns, António Manuel Ribeiro teria sido detido e interrogado. Ao contrário de muitas das recentes edições discográficas, em que o rock mergulhou na depressão nacional, “Porquê?” regressa ao espírito do rock puro e duro. A escrita das canções cruza momentos brilhantes em temas tão fortes como polémicos. Tudo normal. Não deve ser o rock intrinsecamente polémico, agitador, rebelde e provocador?

Poderia entrar numa descrição faixa-a-faixa, contudo, deixarei essa tarefa para quem consiga reduzir “Porque?” a um conjunto de 12 temas. Não o farei porque a essência é o álbum. Mesmo assim, não resisto a escrever a respeito de quase todas as músicas.

A surpresa de “Porquê?” começa logo na primeira faixa. “Nativos” é António Manuel Ribeiro como o imaginara num disco a solo, experimental, em tons independentes e alternativos. É ele próprio que toca percursão africana e uma enigmática percursão ameríndia cordame enquanto declama de forma intensa e furiosa que “se o coração conhece enganos / aceita a vida / sai da batalha”. O mote está dado com esta entrada enérgica e contundente. A canção seguinte descomprime o ambiente e liberta doses pop-rock com um riff de guitarra à UHF. “Viver para te ver” tem todas as condições para ser o novo single e entrar nas playlists das rádios. A letra é própria de tempos primaveris, a melodia é comercial e o refrão orelhudo.

Muitos daqueles que criticam os UHF não gostam que o grupo grave versões. Mais uma vez, deve ser uma idiossincrasia lusitana, pois, aceitamos bem que os artistas estrangeiros recuperem canções mais antigas, porém, quando em Portugal isso sucede os músicos são, geralmente, acusados de oportunismo, de ganância e de crises de criatividade. Conhecendo a realidade do meio musical português, esperava, apenas, uma versão neste CD, todavia, surpreendentemente, os UHF apresentam-nos duas. Tendo em conta o preconceito existente, admito que tive dúvidas sobre a pertinência de tal decisão, contudo, basta escutar o álbum para compreender a coerência da escolha. A versão para “Vejam bem” demonstra que UHF e as canções de José Afonso são uma óptima combinação. Já acontecera no passado e voltou a suceder. Um notório respeito pelo compositor, a forma emotiva como António Manuel Ribeiro a interpreta, uma guitarra límpida que poderia ser de Hank Marvin, enfim, uma obra de arte. Aposto que “Vejam bem” acabará por sair em single, pois, é impensável ter uma pérola destas num álbum e não a expor ao grande público. A outra versão já é sobejamente conhecida. “O vento mudou” colocou, novamente, na ribalta, um sucesso que tem tanto de antigo como de relevante. Eduardo Nascimento ficou emocionado e vimos Nuno Nazareth Fernandes, o compositor, com uma lágrima no canto do olho num espectáculo a que assistimos na FNAC de Almada. Portugal não pode ignorar a sua história musical continuando a valorizar, sobretudo, aquilo que vem lá de fora. A produção nacional dos últimos 60 anos é relevante e de enorme qualidade e urge voltar a descobrir as nossas cantigas. A recuperação de “O vento mudou” ou de “Vejam bem” é um acto cultural importante para um legado que deve ser redescoberto pelas novas gerações.

“Quero entrar em tua casa” é mais um tema rock com um refrão fortíssimo. Gosto particularmente da bateria do Ivan Cristiano e, talvez por outros sucessos passados, recordo o melhor de Zé Carvalho e de Luís Espírito Santo. Dei por mim, esta manhã, sem motivo aparente, a trautear este perigoso refrão.

“Porquê (português)” surge como a faixa 7 e duvido que seja um fruto do acaso essa numeração. São sete as cores do arco-íris, sete os sábios gregos, sete as virtudes humanas que a Filosofia identifica e sete os dias da semana que percorremos, freneticamente, em ciclos de rotação constante. “Porquê / é a pergunta / que o povo faz / com amargura” afirma António Manuel Ribeiro, enquanto discorre diversos porquês numa canção acutilante e de onde sobressai um ritmado lado acústico com recurso ao acordeão, pandeireta e clave. O refrão é poderoso e sintetiza um sentimento que trespassa toda a obra, “Porquê / outra vez / o naufrágio português”.

Depois… bem, depois temos uma sequência final de arrasar. “A última prova”, “Cai o Carmo e a Trindade” e “Acende um isqueiro” são três temas que nos transportam para outros tempos.

“Acende um isqueiro” podia pertencer a qualquer um dos primeiros trabalhos dos UHF e ganha uma dimensão épica quando a comparamos com a versão gravada no Coliseu de Lisboa. “Vim aqui para cantar / e para vos conhecer / receber o que o povo dá / se o artista merecer”. Os UHF transformaram um acústico intimista numa grande canção rock dedicada a todos aqueles que marcam presença nos concertos e onde António Manuel Ribeiro plana na música num ambiente próximo de Jim Morrison. O baixo de Fernando Rodrigues, algures no minuto 3:30, evoca-me recordações de Carlos Peres ou de Fernando Delaere.

“A última prova” é UHF vintage com a presença de um endiabrado HammondB3, pelas mãos do convidado Manuel Paulo, que nos conduz para uma identidade sonora que funde as raízes dos UHF com linhas clássicas de rock impar. Pedagogicamente, esta canção devia sair no formato de single para que os mais novos tenham contacto com a sonoridade UHF em estado puro. As guitarras de António Côrte-Real fazem a junção histórica de vários guitarristas que passaram pela banda e, mentalmente, vejo Renato Gomes, Rui Rodrigues ou Rui Dias. A avaliação do trabalho de uma banda também se faz pela recordação da sua história e António Côrte-Real tem um desempenho notável neste disco. É essencial que se compreenda que este pode ser um excelente álbum dos UHF, quiçá, talvez mesmo o melhor de todos, porém, isso só sucede porque esta formação está a tocar como nenhuma outra o fizera no passado. “Porquê?” é também um marco individual nas carreiras de Ivan Cristiano, Fernando Rodrigues e António Côrte-Real.

“Cai o Carmo e a Trindade” podia pertencer aos álbuns “Persona Non Grata” ou “À Flor da Pele”. A audição é obrigatória para todos os que gostam e para todos aqueles que detestam UHF. “Eles vão ficar à solta / foi tudo uma ilusão / a malha da rede é grossa” ou “Cai o Carmo e a Trindade / gente fina no pantanal / castos sem castidade / nada se passa de anormal / em Portugal” são, apenas, excertos de uma letra arrasadora e onde os UHF tocam, profundamente, na questão da justiça portuguesa e no facto de ninguém confiar na justiça que temos. A escrita terá sido inspirada no mediático processo “Casa Pia”?

Mas “Porquê?”, apesar da intensidade interventiva, transmite uma ideia de construção positiva do futuro. “Segue em frente / não olhes para trás”, “Não te vás abaixo / se o medo rondar”, “Portugal – somos nós / mil histórias de coragem” são somente alguns dos versos que entoam em “Portugal (somos sós)” a canção escolhida para encerrar este arrojado trabalho. Ainda antes do final do CD, surge um segmento da composição que inicia o álbum. A vida é feita de ciclos e os extremos acabam por se ir tocando mais do que se imagina. Este é, assim, um disco onde o “repeat” faz mais sentido do que numa obra normal. Os UHF deixam-nos essa mensagem de um final, que é, afinal, um novo começo. Não tem sido a carreira dos UHF um retrato fiel disso mesmo?

Comparar a qualidade entre discos espaçados por 20 ou 30 anos não é simples nem sequer aconselhável. A realidade do presente é muito diferente daquela que António Manuel Ribeiro viveu em 1980, 1987 ou 1993 e a tendência que temos é a de valorizar mais o passado e minimizar o presente. “Porquê?” pode não ser o melhor disco dos UHF, porém, andará lá perto. No mínimo, é o álbum com melhor produção da sua carreira, onde João Martins acrescenta valor, é o trabalho mais interventivo e aquele em que o balanço entre canções pop e rock melhor se faz, sem comprometer a qualidade e a coerência da obra. Este disco não é, apenas, um novo álbum dos UHF. É uma pedrada no charco do conformismo, da mediocridade, da falta de rumo que se sente em certos sectores da nossa sociedade. É um grito de revolta numa sociedade bastante diferente da existente em finais dos anos 70. Estará Portugal preparado para dar respostas a “Porquê?”?
Uma coisa é certa, os UHF, aqueles UHF que atingiram o estatuto de lendas do rock português, estão de regresso.

3.10.10

Um mergulho nos UHF de 1992

Como terá sido o concerto dos UHF no Coliseu de Lisboa em 1992? Como resposta a esta pergunta, descobri uma peça arqueológica referente a esse espectáculo que decorreu a 7 de Fevereiro desse ano, que editei, para disponibilizar no blogue Canal Maldito, nas vésperas dos Coliseus que os UHF fizeram em 2006. Como curiosidade, deixo no final deste post alguns excertos dessas duas horas de programa de rádio - feito em directo.

Hoje em dia é normal bandas rock incluírem os Coliseus nas suas digressões, todavia, em 1992 tal não era frequente. Recordo-me bem desse concerto no Coliseu de Lisboa há catorze anos, quando os UHF convidaram Jorge Palma, Lena d'Água e Zé Pedro para participarem em cada um dos três actos que o espectáculo encerrava. Se bem me lembro o espectáculo estaria dividido em três andamentos: "a farsa", "o amor" e "o fogo".
Esse concerto correu muito bem, tendo constituído um ponto muito alto na carreira dos UHF.

Recordo também a véspera do concerto de Lisboa em que partilhei uma mesa de quatro lugares num restaurante próximo do Coliseu com António Manuel Ribeiro, Zé Pedro e Jorge Palma. Estavam, todos eles, entusiasmados com o evento e os dois convidados especiais preparavam-se para o ensaio que iria entrar pela madrugada. Como as coisas estavam atrasadas, ainda deu para uma passagem pela casa de Jorge Palma, onde, de volta de uma Ballantines 12 anos, foi possível ver um episódio dos Simpsons.

Antes de ter saído do Coliseu com o Jorge Palma, recolhi diversos apontamentos para o meu programa de rádio "Rock de cá". Por exemplo, o depoimento de Zé Pedro - muito interessante, esboçando um sorriso à pergunta se não estaria nos planos da sua banda a passagem pelo Coliseu dos Recreios. Que não, disse ele, pois uma sala como o Coliseu não seria propícia a concertos rock. Considerava que os UHF podiam apostar no Coliseu porque tinham muito mais canções calmas do que os Xutos. Actualmente, e depois de várias actuações dos Xutos neste recinto, a opinião de Zé Pedro pode parecer estranha, porém, quem se recorde do Portugal de 1992 sabe que, nesses tempos, não era habitual utilizar o Coliseu para concertos rock!

Foi também a curiosidade de ver um grupo de rock português no Coliseu de Lisboa que cativou a presença de muita gente. Ainda mais porque, na época, os UHF já eram considerados veteranos!

A verdade é que o concerto dos UHF não foi acústico, nem repleto de baladas, mas sim rock'n'roll à flor da pele e essa noite ficou na memória do rock português por mais outro motivo, directamente relacionado com a impreparação de concertos rock no Coliseu e com a força do próprio evento. Por certo, foi estabelecido um novo record de cadeiras partidas na mítica sala da Rua das Portas de Santo Antão! Não que o concerto tenha sido violento, pelo contrário, contudo, perante tanta gente aos saltos em cima de tão frágeis cadeiras, outro desfecho não seria previsível. Talvez quem tenha optado por não tirar as cadeiras da plateia tenha também conversado com Zé Pedro na véspera do concerto e deduzido que os UHF iriam fazer um concerto essencialmente acústico. Foram mais de cem as cadeiras aniquiladas pelo saudável rock dos UHF.

Naquela noite, quase tudo correu bem aos UHF. O clima da sala esteve ao rubro e as canções foram entoadas do início ao fim por uma audiência participativa e rendida. O som poderia ter estado melhor, porém a performance de músicos e convidados foi quase perfeita.

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29.9.09

O Atlântico na Rua do Carmo

No sábado passado o Atlântico destacou o histórico concerto que os UHF deram no dia 19 de Setembro na Rua do Carmo. Além de entrevistas com os quatro elementos dos UHF tive uma longa conversa com o meu amigo e responsável pelo Atlântico, Bruno Gonçalves Pereira.
O Atlântico é transmitido aos sábados entre as 19h00 e as 21h00 na Miróbriga e numa parceria conjunta disponibilizamos em formato "compacto" a parte dedicada a este evento.

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20.9.09

UHF esgotam Rua do Carmo

Fotografia de Francisco RosárioFoi a maior concentração popular desde o início da campanha eleitoral para as legislativas. Quando me aproximei escutei alguém perguntar se “estaria ali o Sócrates”. Não estava nem José Sócrates nem Manuela Ferreira Leite. Quem discursou nessa noite foi António Manuel Ribeiro que subiu ao palco com a determinação dos vencedores.

“Rua do Carmo” é um dos temas de maior sucesso na carreira dos UHF. Ontem, assisti a um concerto verdadeiramente histórico que juntou o Canal Maldito com a rua que cantam desde 1981. O espectáculo fez-me recordar outros eventos mágicos protagonizados por grandes grupos rock internacionais. Por cá, estes acontecimentos não são assim tão frequentes e congestionar aquela zona de Lisboa é, igualmente, raro. Na realidade, o resultado do concerto de duas horas dos UHF não podia ter sido mais surpreendente. Mesmo sem grande publicidade, a Rua do Carmo esteve repleta de fãs e de populares curiosos. Tanto uns como os outros, cantaram os temas do início ao fim num imenso e colectivo coro. Eu estava próximo do palco - fui furando desde a zona da loja da Ana Salazar - e, quando olhava para trás, só via pessoas de braços no ar, pelo que imagino o que terão sentido os músicos em cima do palco.
O alinhamento foi escolhido ao milímetro e as principais canções dos UHF que evocam Lisboa não foram esquecidas. Aliás, o alinhamento foi seleccionado com requinte. Todas as músicas foram sinónimo de rock, enquanto a poesia cortante de António Manuel Ribeiro fez o pleno entre sons e palavras.

Respirou-se um ar de revolução na zona da Baixa. Os músicos actuaram como se fosse aquele o último dia das suas vidas. Porém, o amanhã existe. E, a julgar pela amostra apresentada, o futuro promete ser risonho.

Foram três os novos temas tocados ontem. A versão “Vejam Bem” (José Afonso) e os inéditos “A última prova” e “Quero entrar em tua casa”. Qualquer um deles com imenso potencial a abrir o apetite para o próximo álbum de originais. “A última prova” é UHF vintage e “Quero entrar em tua casa” podia ser o primeiro single de uma nova banda.

Renato Gomes voltou a aparecer em palco para nos brindar com a excelência dos seus solos, enquanto António Côrte-Real, Fernando Rodrigues e Ivan Cristiano voltaram a provar todo o seu valor – se é que ainda precisam de provar alguma coisa. António Manuel Ribeiro estava, visivelmente, emocionado e sentia-se que a sua felicidade era enorme.

Com um alinhamento como o de ontem, fico na dúvida se algum dia assistira a um concerto de UHF tão bom como este. Pode parecer estranho, mas, sinceramente, não sei!

Que venha o próximo álbum o mais depressa possível e mais concertos com esta energia.

UHF - Rua do Carmo

Autoria: Paulo Reis

Fotos da multidão:

Fotografia de Maria José Freitas

Fotografia de Maria José Freitas



Alinhamento:
1 Rapaz caleidoscópio
2 Jorge morreu
3 Dançando na noite
4 Apetece namorar contigo em Lisboa
5 Na tua cama
6 A última prova
7 Matas-me com o teu olhar
8 Vejam bem
9 A noite inteira
10 Uma palavra tua
11 Cavalos de corrida
12 Geraldine
13 Sonhos na estrada de Sintra
14 Modelo fotográfico
15 Menino
.....
16 Noites lisboetas
17 Rua do Carmo
18 Quero entrar em tua casa
19 Menina estás à janela
.....
20 Matas-me com o teu olhar
.....
21 Hesitar

17.4.09

"Absolutamente ao Vivo" hoje na RTP2

Parte do concerto dos UHF no Coliseu de Lisboa vai ser apresentado hoje, dia 17 de Abril na RTP2. Entretanto, o DVD recentemente editado e que não se consegue encontrar nas lojas da cadeia FNAC, permanece nos 20 mais vendidos. Mais de uma semana depois do seu lançamento, "Absolutamente ao Vivo", ainda não estava disponível na Fnac do Colombo; no início desta semana foi-me dito que já tinham tido, mas que estava esgotado. A quem quiser comprar sugiro uma passagem pelas lojas da Worten. Foi o que fiz.
Para quem quiser comprar online pode usar a loja CDGO.

1.4.09

14º no Top

Foi com satisfação que verifiquei que o recente DVD "Absolutamente ao Vivo" dos UHF entrou para o 14º lugar no Top de vendas desta semana. Mesmo sem entrar em muitos detalhes poderei assumir que gosto bastante do "Sonhos na estrada de Sintra" (onde António Côrte-Real tem uma prestação magistral - absolutamente fantástica), "A Lágrima Caiu" (seria o single perfeito) e "Cavalos de Corrida" (António Manuel Ribeiro tem uma presença em palco brutal e este vídeo devia ser o escolhido para passar nas TV's). Deixarei para momento posterior outras reflexões sobre este primeiro DVD dos UHF. No "Absolutamente ao Vivo" existe um levantar de voo por parte de António Côrte-Real, Fernando Rodrigues e Ivan Cristiano. Esta formação além de ser a mais duradoira é igualmente a mais competente. Os outros músicos fazem agora parte do valioso baú da memória. Nada mais que isso. A comprar antes que esgote.

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Actualização: Parece que desta vez os UHF não se podem queixar da promoção. Destaque para o especial no “Top Mais” (sábado, 4 de Abril) e para o “Só Visto” onde António Manuel Ribeiro é o convidado central (domingo, 5 de Abril). Ambos os programas são transmitidos na RTP1.

26.3.09

Absolutely Live dos UHF

O primeiro "Absolutely Live" foi editado pelos The Doors em 1970. Depois disso foram vários os artistas que usaram esse mesmo título para os seus discos ao vivo. Rod Stewart (1982), Toto (1993) ou Jerry Lee Lewis (2008) são alguns desses músicos, mas, "Absolutely Live" é uma expressão que estará para sempre ligada ao grupo de Jim Morrison. Curiosamente, o primeiro álbum português que se chama "Absolutamente ao Vivo" acaba de ser editado e pertence aos UHF. Acreditam em coincidências? Prefiro acreditar em provocações.

"Sonhos na Estrada de Sintra", "Noites Lisboetas", "Matas-me Com o Teu Olhar", "Sarajevo (verão 92)", "Cavalos de Corrida", "(Fogo) Tanto me atrais" ou "Rapaz Caleidoscópio" são alguns dos motivos pelos quais recomendo a compra, visualização e audição do primeiro DVD na carreira dos UHF.

6.3.09

O verdadeiro rocker português

O meu amigo João Quintela aparece aqui como convidado surpresa num concerto dos Quinta do Bill. Carlos Moisés deve ter bebido demasiada água da Serra da Estrela e deu-lhe para partilhar o palco com um verdadeiro artista.
Quintela iniciou a sua carreira musical enquanto Relações Públicas dos UHF, tem actualmente uma empresa ligada ao mundo da música e a canção que escolheu para encantar as fãs de Manteigas foi a romântica "Cavalos de Corrida".
Reparem bem como Quintela domina as várias inflexões e timbres vocais aproximando-se, sem esforço, soberbamente, do registo do vocalista dos UHF!

João, um grande abraço para ti e o António Manuel Ribeiro que tenha cuidado porque afinadinhos como tu há poucos e ainda lhe ficas com o lugar...

31.1.09

30 anos ligados à tomada

Ainda o texto anterior estava a ser concluído e surge-me mais uma história que liga, de forma peculiar, os UHF e os Xutos & Pontapés.

Fui hoje surpreendido por um email que me dava conta de mais um caso que envolvia o Blitz e os UHF. Suspirei de alívio… nos últimos meses sempre que escuto a palavra “caso” imagino de imediato que mais alguma coisa estará para suceder ao meu Belenenses. Felizmente, desta vez, a situação era com uma instituição mais habituada a embrulhadas desta índole. Aliás, quando se fala de Blitz e se acrescenta a sigla UHF é porque a situação é polémica. Ou por ao longo de anos ter o então jornal primado por omissões de factos importantes que envolvessem um dos principais grupos portugueses ou por redigirem críticas negativas em relação a muitas das actividades da banda. Felizmente, vivemos em democracia e se hoje os UHF têm menos projecção do que em 1980, na verdade, a Blitz, apesar de ter mudado de sexo, não parece recuperar de uma lenta e contínua agonia.

Vem isto a propósito do título de um artigo de fundo. Mas já lá vamos com certa dose de paciência. Como todos sabemos existem dois grupos que marcaram o rock português de forma intensa. Os primeiros, os UHF, atingiram a fama muito cedo e em 1980 já eram campeões na estrada; os segundos, os Xutos & Pontapés, iniciaram a carreira pouco depois, mas somente conquistaram a glória em 1987. Os primeiros foram sempre um reflexo do seu obstinado líder; os segundos sempre foram um grupo onde todos ocuparam um espaço próprio. Os primeiros eram incómodos, agressivos e nunca conviveram bem com o poder instalado; os segundos foram de punks a comendadores. Os primeiros fizeram a digressão dos 30 anos em 2008, começaram na Aula Magna e finalizaram na Academia Almadense; os segundos fazem este ano a mesma idade e irão terminar a digressão no Estádio do Restelo.

Afinal, qual dos dois teve “30 anos ligado à corrente”? Os primeiros porque foi esse o nome da digressão do ano passado ou os segundos porque uma revista assim o escreve? E porque motivo o Blitz usa essa expressão para destacar os segundos e não esteve presente no dia 20 de Dezembro em Almada para contar como foi a celebração da digressão dos primeiros e que tinha essa exacta designação? O recurso a este título será uma rara coincidência, uma gritante falta de imaginação, um retomar de um amor antigo ou um mero fruto do subconsciente? Como se fosse algo que muito desejamos e que não conseguimos ou que não temos coragem de ter?

A dose de incomodidade entre os UHF e o Blitz remonta a tempos muito antigos. Quando o jornal nasceu eram os UHF a banda “instituição” do rock português. É aceitável que quem queira ser alternativo busque montras independentes e ataque o que é mais popular. Porém, nunca compreendi bem os motivos e jamais se perceberam as razões. Se quisermos ir fundo nas coisas é importante recordar que já em 27 de Novembro de 1984, Rui Monteiro escrevia no número 4 deste jornal, um artigo sobre os UHF e com o título “Sempre as mesmas músicas”. Curioso é que, em 1984, já tinham os UHF editado mais do triplo dos discos que vários grupos “famosos” apadrinhados pelo Blitz conseguiram gravar nas suas vastas e fugazes carreiras. Também engraçado é que o álbum de estúdio seguinte foi apenas o “Noites negras de azul”. Quanto a mais do mesmo, não é uma das vantagens dos predestinados o criarem uma sonoridade que os identifique? Não é assim com os Stones? Não é uma das vantagens dos Xutos dizermos que “esta nova música é mesmo à Xutos?”. Não foi um dos motivos de críticas a projectos como os Taxi, o ser afirmado que “eles mudavam muito de álbum para álbum”? Estaremos defronte da eterna situação de ser preso por ter cão e ser preso por não o ter?

Existem projectos ligados à corrente durante 30 anos e com público nos concertos. Infelizmente, existem outros projectos ligados à corrente só para que se mantenham num estado vegetativo. É a vida nesta nossa pequena indústria musical quando ninguém tem coragem para desligar a máquina.

10.1.09

UHF - A reportagem dos 30 anos

Foi hoje transmitido no Atlântico, da Miróbriga, uma emissão especial sobre os 30 anos de carreira dos UHF. Este especial incluiu uma reportagem realizada na noite de 20 de Dezembro de 2008, na Academia Almadense. Para quem não escutou ou para quem queira voltar a ouvir, disponibilizo a reportagem integral com duração de 50 minutos.

Clicar para escutar a reportagem.

Em alternativa pode fazer o download do ficheiro para o seu computador. Para tal deve posicionar o cursor do rato no link desejado e clicar com o botão direito escolhendo a opção "save target as..."ou "save link as..." dependendo do browser utilizado.

Última hora: Como consequência dos inúmeros emails recebidos pelo Atlântico, Bruno Gonçalves Pereira decidiu disponibilizar, para download, a totalidade desta emissão especial de 2 horas. Para obter o programa basta ir ao blogue do Atlântico no espaço dos próximos 8 dias.







Fotografias da autoria de Francisco Rosário.

Esta reportagem foi possível graças à colaboração de:
António Côrte-Real (UHF)
António Manuel Ribeiro (UHF)
Carlos Teixeira (Fonzie)
Cristina Loureiro
Fernando Rodrigues (UHF)
Francisco Rosário
Henrique Salgado
Ivan Cristiano (UHF)
Jaime Pessoa
João Flamino
João Quintela (produtor do espectáculo)
Miguel Ângelo (Delfins)
Nuno Chanoca (assessoria de imprensa)
Renato Gomes (co-fundador UHF)
Tozé Morais (músico convidado: gaita de foles e harmónica)

Um muito obrigado a todos eles e um abraço especial a Bruno Gonçalves Pereira - ao amigo e ao grande profissional de rádio - que aceitou o desafio de transmitir a única reportagem rádio realizada na noite de festa dos 30 anos dos UHF.

7.1.09

Atlântico - Especial 30 anos de UHF

O Atlântico vai transmitir entre as 19h00 e as 21h00 do próximo sábado um especial sobre os 30 anos de carreira dos UHF. Este especial inclui uma reportagem realizada na noite de 20 de Dezembro na Academia Almadense. A não perder este programa da responsabilidade de Bruno Gonçalves Pereira.



Clicar aqui para escutar a emissão em directo.

2.1.09

30 anos malditos em noite de festa

UHF – Lisboa no centro da guerra

Os projectos que só tocam em Lisboa, sem possuírem um circuito de concertos pelo resto do país, não possuem sustentabilidade concreta e o seu futuro é, geralmente, bastante limitado. Porém, quando um grupo mantém uma agenda preenchida ano após ano, mas não apresenta espectáculos na capital, corre o risco de quase desaparecer do universo mediático português e perder o comboio das estrelas maiores. Os UHF tiveram uma ascensão meteórica em 1980 e mantiveram-se sob as luzes da ribalta até ao momento em que António Manuel Ribeiro sumiu dos grandes concertos na cidade de Lisboa. Recordo-me, com bastante nitidez, dos espectáculos no Rock Rendez Vous (1989), Feira Popular (1989) ou Coliseu (1992) que permitiram que aos sucessos populares se juntassem as produções que funcionam como mola nas carreiras musicais. Ao enveredarem, unicamente, pelo designado “circuito de província”, os UHF iniciaram um lento processo de distanciamento dos centros de decisão. Se a isto somarmos outros factores como a constante mudança de editoras, troca de músicos ao ritmo do samba, a rebeldia e afrontamento que o seu líder António Manuel Ribeiro foi mantendo com diversas personalidades da nossa praça e a ausência de discos nas prateleiras das discotecas (alguém sabe, ao certo, quantos álbuns de originais têm os UHF?), o resultado é o que se poderia esperar.

Aos poucos, muito lentamente, os UHF perderam o estatuto que tinham conquistado em mais de uma década de guerra, permanente e intensa. António Manuel Ribeiro não poupou munições e, durante os anos oitenta, disparou contra jornalistas, editores e demais intervenientes da insípida indústria musical nacional que funcionava entre copos vertidos no Bairro Alto. Lutar contra o “status quo” é um dos primeiros mandamentos de um verdadeiro rocker e António Manuel Ribeiro, quer se goste da sua personalidade, ou não, é, de entre todos os cantores rock nacionais que atingiram o estrelado em 1980, o único que transpira atitude rock por todos os poros. O cognome Canal Maldito não foi fruto do acaso, nem produto fabricado pelo marketing.

Cada tiro no porta-aviões implicou mais anticorpos e, apesar deste esforço bélico ser de louvar, na verdade, a ausência de uma estrutura interna sólida impossibilitou um crescimento continuado, num percurso de escaladas e de tombos violentos. Para ser justo, não posso esquecer a saída de Cristina Loureiro – o cérebro administrativo – dos escritórios da banda, no início dos anos 90. Quem se habituou ao seu profissionalismo, sabe bem o que representa uma pessoa com o seu perfil, que, pessoalmente, comparo ao da saudosa Marta Ferreira, dos Xutos. Todos os factores referidos tiveram um reflexo negativo na carreira do grupo.

Não obstante, durante vários anos, os UHF foram o expoente máximo do rock português e, durante alguns anos, foram mesmo, a única banda rock verdadeiramente profissional neste país. Entre 1980 e 1985, revelaram-se campeões de popularidade, de conflitos e de espectáculos ao vivo. Entre 1988 e 1993, voltaram à ribalta com sucessos como “Na tua cama”, “Hesitar” ou “Menina estás à janela”. Depois disso, existiram demasiados baixos entre poucos altos. Após a edição de “69 Stereo” (1996), António Manuel Ribeiro fechou a última porta sobre o passado, “despachando” do grupo todos os elementos da sua geração e indo buscar jovens músicos da idade do seu filho e guitarrista, António Côrte-Real.

Foi esse o momento da “refundação” da banda. O trabalho seguinte, o CD “Rock É! Dançando na noite” (1998) poderia ter conseguido, no tema “Quando (dentro de ti)”, o mesmo efeito de “Na tua cama”, dez anos antes. Não sucedeu. Os tempos eram outros, as rádios começaram a evitar músicas do grupo e uma excelente canção passou ao lado do grande público. Situação semelhante ocorreu com potenciais sucessos como “Dança comigo (até ao sol nascer)” (1999), “Angie” (1999) ou “A lágrima caiu” (2003). Os UHF não voltavam ao zero, mas eram obrigados a percorrer um sinuoso e lento caminho, tendo em vista a reconquista do ouro perdido. Um trabalho árduo, com imensos percalços e resultados vagarosos, surgindo aos poucos.

Até que, em 2006, na sequência do sucesso de “Matas-me com o teu olhar” (2005), os UHF compreenderam que o regresso aos grandes palcos era uma necessidade e uma exigência. O risco assumido foi o habitual e António Manuel Ribeiro lançou-se aos Coliseus de forma destemida. A sala não esgotou, contudo o concerto no Coliseu de Lisboa mostrou que a banda estava preparada para regressar às grandes produções. Foi realizada uma gravação que irá sair, brevemente, em DVD, com toda a envolvência do público a que poderemos assistir.

E eis que, no último ano, começaram a surgir reedições dos primeiros discos; a escassa imprensa musical, de uma nova geração, começa a compreender a história do fenómeno chamado UHF e, admitimos, perdeu o receio de ser espancada pelo seu líder; o aproximar dos 30 anos de carreira parecem ter proporcionado, a António Manuel Ribeiro, uma segunda fonte de juventude e de determinação.

Para que isto fosse possível, muito contribuiu a estabilidade que se tem vivido no seio do grupo. Ivan Cristiano, Fernando Rodrigues e António Côrte-Real estão mais maduros, mais seguros e com a atitude rock que fez dos UHF uma máquina infernal.

A digressão dos 30 anos começou, de forma positiva, na Aula Magna. A sala encheu, o reportório foi bem seleccionado e quem esteve presente saiu claramente satisfeito com o rock que se escutou. Os textos publicados na imprensa foram unânimes no tecer de críticas positivas, numa estranha consensualidade nunca anteriormente registada. Estavam os dados lançados para a digressão e para o anunciado concerto de encerramento destas comemorações de 30 anos que iria ocorrer na sua cidade Natal. O regresso para um espectáculo em Almada só faria sentido se a aposta fosse em grande.


A bomba em tempo de Natal

A noite estava fria e as pessoas foram chegando de forma ordeira e espaçada. Um primeiro olhar para os espectadores permitiu constatar que estávamos na presença de um encontro de gerações, com especial destaque para o intervalo entre os 30 e os 50 anos. O ambiente era de expectativa e respirava-se um certo respeito pela solenidade do momento. 30 anos de carreira não são uma comemoração banal no nosso meio musical, sobretudo, quando nos referimos a um grupo rock.

Nos últimos anos, a estrutura base dos UHF consolidou-se, o núcleo de músicos na banda tem permanecido estável e a nova geração cresceu e respira um mesmo objectivo. Claro que os tempos são outros e ninguém espera, nem exige, que António Côrte-Real seja igual a Renato Gomes, nem que Fernando Rodrigues assuma a personalidade de Carlos Peres. A tarefa é duplamente mais complicada e cruel para os actuais elementos. Todavia, os últimos concertos a que tenho assistido mostram que o renascimento mediático do Canal Maldito está mesmo ali ao lado. O excelente trabalho de reedições de material há muito esgotado está a permitir que uma nova geração conheça a obra de António Manuel Ribeiro e dos UHF. É neste cenário que surge o fecho das comemorações de 30 anos.

Após a Aula Magna, este concerto só fazia sentido se fosse realmente especial. E foi. Na verdade, foi tão especial que somente quem assistiu poderá compreender o que sucedeu dentro daquelas quatro paredes em Almada. Não é simples falar deste concerto. Aceito que estou com imensa dificuldade em apresentar uma crítica a algo que roçou a perfeição. Admito que o crítico também tem direito a entusiasmar-se, apesar dos meus amigos íntimos serem testemunhas do meu nível de frieza e exigência na análise pós concertos – que o digam os k2o3 que saltavam eufóricos do palco e me encontravam com um sorriso amarelo fruto de uma mescla de satisfação pelo dever cumprido e de observações de aspectos a serem melhorados.

No dia 20 de Dezembro, na Academia Almadense, em plena quadra natalícia, fui testemunha da detonação de uma bomba rock. Os momentos intensos foram tantos que poderemos considerar que assistimos a um concerto “tântrico”. A surpresa começou na duração do espectáculo. Mais de 3 horas para um alinhamento de 32 canções. Depois o alinhamento, foi, ele também, uma boa surpresa. Não se escutaram temas como “Sou Benfica” ou “Foge comigo Maria” – canções das quais nunca fui simpatizante – e não se escutaram sequer clássicos como “Modelo fotográfico”, “Na tua cama”, “Brincar no fogo” ou “Menina estás à janela”. Estas 32 canções foram um retrato fiel de uma carreira, com temas mais comerciais como “Cavalos de corrida” e outros menos previsíveis como “Velhos tamborins”. Sentiu-se que todo o concerto fora tratado com um cuidado muito delicado, pensado ao mais ínfimo detalhe, com vista a proporcionar um impacto crescente. Descrever o que sucedeu naquela noite em Almada é falar sobre emoções e as emoções são de difícil explicação por palavras objectivas e directas. Salientar o virtuosismo técnico dos músicos presentes seria tão anedótico como escamotear que a esmagadora maioria dos espectadores conhecia todas as canções algum dia gravadas pelos UHF.

A sala estava cheia de admiradores dos UHF. Isto poderá levar alguns a presumir que a noite estava antecipadamente conquistada. Apesar deste raciocínio ser tentador, na realidade, o público presente estava expectante, pronto a ser conquistado, se… se o conseguissem conquistar. É que, dentro de cada fã dos UHF encontra-se um crítico impiedoso e sempre pronto a vincar as suas divergências. Perante aquela plateia, António Manuel Ribeiro sabia que tinha de se esforçar vezes sem conta. No fundo, quanto maior fosse o risco assumido, maior o resultado que se poderia atingir. Naquela noite, o céu foi o único limite.

E que houve assim de tão especial neste concerto?

Houve uma gaita-de-foles de Tozé Morais que percorreu a sala antes de subir ao palco, quando se revelou “O povo do mundo”.
Houve António Manuel Ribeiro, tal profeta de uma geração, a ser mestre na rebelião de consciências e a uivar frases cortantes, contundentes, próximas do clímax, como na assombrosa “Sonhos na estrada de Sintra”.
Houve Miguel Ângelo que, com António Manuel Ribeiro, arrancou um arrepiante “Podia ser Natal”.
Houve um momento digno de um mundo perdido, uma ocasião raríssima de presenciar e que abriu o primeiro encore: Carlos Peres, Renato Gomes e António Manuel Ribeiro incendiaram a sala com “Noites lisboetas”, “Voo para a Venezuela”, “Devo eu” e “Estou de passagem”, todas em formato acústico.
Houve uma atitude a roçar o punk-rock, digna dos primeiros anos, sem qualquer cedência mais popular.
Houve “Um mau rapaz”, que fez vibrar mesmo a bactéria mais soturna da sala.
Houve “(Fogo) Tanto me atrais”, “Velhos amigos (onde estais)” e “Esta dança não me interessa”.
Houve, ainda, um “Rapaz caleidoscópio”, com outra actuação endiabrada e frenética de um Renato Gomes que tem de repensar o que anda a fazer da sua carreira enquanto músico.
Houve uma comunhão rock entre todos os intervenientes, que culminou com um êxtase colectivo, aquando do fecho com “Hesitar” – com direito a harmónica de Tozé Morais.

Mas, vou ter de ir mais longe nesta análise.
Houve ainda outro momento.
Houve Fernando Rodrigues (piano e guitarra acústica), Ivan Cristiano (bateria), António Côrte-Real (guitarra), Carlos Peres (baixo), Renato Gomes (guitarra) e António Manuel Ribeiro (voz) em 3 canções que constituíram o momento mais importante de toda a carreira dos UHF. A História do rock português escreveu um capítulo único naqueles minutos mágicos. Aos actuais e pujantes UHF, juntou-se a pólvora demolidora de Carlos Peres, o baixista mais marcante do rock português, e associou-se Renato Gomes, um guitarrista de outra galáxia, que expeliu doses brutais de criatividade e de electricidade incontida. Os diálogos de guitarra entre Renato Gomes e António Côrte-Real, o incendiário discurso de António Manuel Ribeiro, a inesgotável energia de Ivan Cristiano, a entrega furiosa de Fernando Rodrigues no baixo, no piano e em todos os instrumentos que tocou ou a chama insubordinada que se pressente em cada acorde rebelde de Carlos Peres. Estes seis homens que partilharam o palco ao longo de “Concerto”, “Jorge Morreu” e “Geraldine” são a melhor formação dos UHF e mostraram ao público duas realidades: que o rock dos UHF tem de ser sempre assim e que, no futuro, o grupo chegará onde os seus elementos o desejarem.

Em certas alturas deste espectáculo, fechei os olhos e retrocedi para a época de ouro dos UHF. Quando os abri, verifiquei que estava a testemunhar uma noite de platina. O espectáculo na Aula Magna foi excelente. Este, na Academia Almadense, foi “o espectáculo”. Não me recordo de quando foi o último, mas já tinha saudades de um concerto rock desta dimensão. Quero mais!

21.12.08

Gomes, Peres e Ribeiro

30 ANOS DE UHF

Para breve algum material recolhido ontem na Academia Almadense a propósito do concerto de 30 anos dos UHF.

Até lá deixo-vos um pequeno video recolhido no concerto e sugiro uma visita a este blogue amigo. Clicar aqui.

18.12.08

UHF celebram 30 anos

ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO EM GRANDE ENTREVISTA


No próximo sábado, dia 20 de Dezembro, em Almada, os UHF vão encerrar a digressão em que celebram 30 anos de carreira. No final de 2007 tive uma longa conversa com António Manuel Ribeiro de onde resultou um especial transmitido na Miróbriga em Janeiro de 2008. O discurso foi intenso, à flor da pele, com a frontalidade que sempre o caracterizou e que lhe granjeou a fama de mau rapaz e de persona non grata do rock português.

Para quem não escutou sugiro vivamente a sua audição.

Clicar para escutar.

Em alternativa pode fazer o download do ficheiro para o seu computador. Para tal deve posicionar o cursor do rato no link desejado e clicar com o botão direito escolhendo a opção "save target as..."ou "save link as..." dependendo do browser utilizado.

Mais informações do concerto do próximo sábado: www.uhfrock.com

27.11.08

A melhor prenda de Natal

A melhor prenda de Natal vai surgir no dia 20 de Dezembro em Almada. Os maus rapazes da música portuguesa encerram a celebração de 30 anos de carreira na cidade que os viu nascer. O concerto, que promete partir as estruturas do Cinema da Academia Almadense, tem lotação limitada a 833 lugares e vai contar com participações especiais dignas de incendiar qualquer fã que se preze. Renato Gomes e Carlos Peres irão estar em palco e o acontecimento promete bastante. Espero que exista gravação de imagens para posterior edição em DVD.

Como aperitivo, os UHF disponibilizam a nova canção, "O tempo é meu amigo", no seu myspace. O tempo pode ser mau amigo de todos nós, mas, uma coisa é certa, 30 anos depois, o tempo deu razão ao persona non grata do rock português. António Manuel Ribeiro está em cima de um palco enquanto outros fizeram as malas e se reformaram.

Os bilhetes podem ser comprados através da internet em ticketline ou nos locais habituais.