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8.1.10

Andar para trás

A minha disponibilidade tem sido bastante limitada e a consequência mais evidente é a menor actividade deste blogue. Ter um blogue é quase o mesmo do que fazer rádio e nunca se consegue estar muito tempo ausente. O retomar de publicação está ligado a um email que recebi e sobre o qual não poderia ficar indiferente. Desde novo que a História e o património do concelho onde nasci e cresci me cativam e creio que só quem passou horas a fio no estudo apaixonado destas matérias ou com “as mãos na massa”, em actividades no terreno, conseguirá compreender, na sua plenitude, o que sinto a este respeito.

Não subsistem dúvidas que existem pessoas cuja visão perdura além do tempo e cujo trabalho só mais tarde é devidamente valorizado. O nosso mundo e o nosso país em particular são pródigos em exemplos desse reconhecimento post mortem. Infelizmente, assim era no passado e assim é numa época em que a internet esmagou muitos dos hábitos anteriores ao ponto de já não imaginarmos como seria possível vivermos sem ela. Quando qualquer um de nós organiza umas férias ou uma viagem de fim-de-semana é usual o recurso à internet para encontrar os melhores restaurantes, os melhores hotéis, as melhores sugestões culturais ou para conhecer melhor a História e a região para onde se vai.

É com certa regularidade que visito o site Alvalade.info que sempre se revelou um espaço de excelência na divulgação da História de uma localidade que tem motivos para se orgulhar do seu passado. Desde 2002 que Luís Pedro Ramos divulga o que de melhor existiu e existe na sua terra e são espaços destes que fazem falta um pouco por todo o lado. Sem sair do concelho de Santiago do Cacém, atrevo-me a dizer que mais nenhum site criado e gerido por um particular tem tanta qualidade e relevância. Gostaria a sede do concelho de ter algo semelhante que servisse de ponte entre o admirável passado e as oportunidades turísticas e culturais do presente. Essas funções têm sido, sabiamente, garantidas neste Alvalade.info, com uma qualidade muito acima da média e muitos furos à frente do que seria expectável tendo em consideração os meios e recursos existentes. Apenas a carolice, a dedicação, o trabalho de quem ama as suas raízes, as suas tradições e a sua História permitiram manter o projecto vivo e dinâmico ao longo de todos estes anos. A decisão, publicamente assumida pelo autor, de fechar as portas do Alvalade.info devia ser motivo de reflexão para muita gente. A região fica mais pobre e diminui a visibilidade de uma terra importante que este ano comemora 500 anos do Foral Manuelino.

Todos aqueles que vivem no século XXI e consideram que o progresso e a modernidade só podem beneficiar com a História e com a cultura de um povo sentem-se hoje mais tristes. Se ainda for possível espero que Luís Pedro Ramos não retire Alvalade.info do ar. O site é importante para Alvalade, para o concelho de Santiago do Cacém e para toda a região do Alentejo Litoral. Mesmo sem actualizações, continuaria a ser o mais eficaz e potente meio de divulgação da cultura, das gentes e da História de Alvalade.

6.11.09

O Atlântico ganhou asas



UMA MADRUGADA NA PRAIA DESERTA

A rádio ainda é emoção, novidade e feita com gente dentro. O Atlântico do último sábado foi um momento único quer para aqueles que fazem da rádio a sua profissão como para quem vai fazendo rádio, unicamente, por paixão.

Existem programas assim. O sucesso de qualquer emissão depende de vários factores, porém, quando se juntam os ingredientes certos somente se pode aguardar pelos resultados obtidos. Um novo álbum de originais de José Cid, uma música da autoria de Ulisses (natural de Santiago do Cacém e líder dos k2o3), a transmissão em exclusivo nacional da primeira versão (demo) dessa canção, as entrevistas a Cid e a Ulisses e os espaços habituais da navegação. O somatório de tudo isto em apenas duas horas de programa veio a originar o que se sabe. Num destes dias, ao início da noite, tive oportunidade de me encontrar com o Bruno Pereira que me mostrou uma pequena amostra das dezenas de emails recebidos na conta do Atlântico. Senti uma boa sensação, sobretudo num período menos glorioso da radiodifusão. A verdadeira sabedoria numa estação de rádio da dimensão da Miróbriga não é tentar combater as rádios nacionais de igual para igual, mas, estando conscientes das diferenças, conseguir elevar aquilo em que podemos ser diferentes. O programa em causa foi um bom exemplo do que pode fazer uma rádio local quando se sabe aproveitar as oportunidades. Uma rádio sem rasgo, sem feedback dos ouvintes, sem participação nas grandes questões da sociedade civil e sem causas é um órgão de comunicação condenado à morte. É fácil um mergulho no adormecimento e na letargia que conduzem ao final dos projectos. O mais complexo é reinventar o que existe e todos os dias procurar surpreender o auditório. Este Atlântico foi tudo isto quando apostou na qualidade, no ritmo, nos conteúdos e no elemento mágico chamado enigma. Durante uma semana, a curiosidade foi aumentando com a população a especular sobre quem seria o músico de Santiago do Cacém. Porém, no decurso do programa e logo após ser revelado o nome do compositor, surgiu outra novidade. Iria ser transmitida, em absoluto exclusivo, a primeira versão que José Cid gravara do tema composto por Ulisses. Tanto na rádio como noutro sector profissional, só com capacidade de inovação, profissionalismo e dedicação se conseguem resultados.

Esquecendo a minha participação, gravada numa sexta-feira tardia onde o cansaço da semana deixou a sua marca, este foi um programa que roçou a perfeição. O seu autor, Bruno Gonçalves Pereira, deu-nos uma nova demonstração da sua elevadíssima categoria profissional, que o catapultou, há mais de uma década, para os grandes grupos de comunicação social nacionais.

O programa encontra-se disponível para audição e aconselho-o a qualquer pessoa que aprecie José Cid, Ulisses (k2o3), música portuguesa ou que sinta curiosidade em ouvir uma emissão de rádio intemporal.



Clicar para escutar a 1ª hora.

Clicar para escutar a 2ª hora.

Em alternativa pode fazer o download do programa para o seu computador. Para tal deve posicionar o cursor do rato no link desejado e clicar com o botão direito escolhendo a opção "save target as..."ou "save link as..." dependendo do browser utilizado.

3.8.09

A noite atlântica

Só quem viveu sabe o que foi. E quem viveu de forma intensa as noites dos Dias Atlânticos não deixou de estar presente nesta festa. Vieram um pouco de todo o lado, sem hesitações e com o apelo forte de um chamamento. Foram em vasto número aqueles que não conseguiram resistir ao charme viciante da recordação das melhores noites de sempre por terras do litoral alentejano.

A maioria dos mais assíduos antigos clientes chegaram cedo como se quisessem confirmar que existia mesmo uma festa e que não estariam a sonhar. “Belisquem-me para ter a certeza de que é verdade” era uma expressão que se sentia em muitos dos olhares daqueles que já lá estavam quando entrei. Cheguei cedo. Nem era meia-noite quando abordei o parque de estacionamento dos Dias Atlânticos. Os carros começavam a acumular-se e, depois de uns instantes de hesitação, optei por fazer tudo como antigamente. Perdi mais uns minutos que custaram a passar e deixei a viatura perto da casa de um amigo meu. Na generalidade, as pessoas começaram a chegar à discoteca bastante cedo. O facto de terem existido diversos jantares de grupo fez com que muita gente preferisse ir directa do restaurante para a celebração.

Os reencontros com amigos foram uma constante e a noite só teve o defeito de não se ter esticado mais horas, mais dias, mais noites. Logo à entrada, alguns colegas do liceu e um abraço ao antigo porteiro Velez, com quem recordei algumas histórias no meio de largos sorrisos. Pouco depois, e ainda fora da discoteca, foi a vez de um grande abraço a Luís Lucas, meu grande amigo de muitas noites nos Dias e de várias tardes, no estúdio da Miróbriga, na condução do programa “Café Rock”. Falámos das festas, das coberturas em directo pela rádio… até que um calafrio me percorreu a espinha quando o Lucas me perguntou pelo saudoso Fernando Calado.

Finalmente, entrei na discoteca. Parei para duas conversas com Zé Dado e Paulo Chaves, enquanto a casa começava a encher. Fui abordado por uma antiga cliente dos Dias que visitara o meu blogue. Entre palavras repletas de simpatia passámos em revista as noites que marcaram o início dos anos 90 na nossa região. Entretanto, sou abraçado por outro antigo colega de secundária. Na cabine dos DJ’s estavam Zé Alexandre, Luís Sambado e Miguel Fino. Mais tarde, vi Tiago Rito, um dos homens que fundou os Dias Atlânticos, certamente agradado com a adesão popular.

Consegui percorrer uns dois metros no espaço de meia-hora. Nada mau porque ainda me mexia com grande à-vontade e era simples pedir uma bebida. Em má hora não o fiz porque, em breve, estaria uns 30 minutos numa afável espera para ser atendido. Os preços eram simpáticos e o consumo mínimo exigido também era acessível.

A casa esteve apinhada, o ambiente foi fantástico, a música – após um início com 3 ou 4 músicas que me fizeram tremer (nunca fui fã de ABBA) – avançou, rapidamente, para a coerência e qualidade a que estávamos habituados. Além dos êxitos de massas, por lá passaram coisas tão boas como “E=MC2” dos Big Audio Dynamite (a banda de Mick Jones dos Clash) que me fizeram dar uns passos mais largos de dança numa pista forçosamente pequena para tanta gente. Tal como Miguel Camanho (DJ de tantas e tão boas noites em Sines) me dizia numa das dezenas de reencontros que tive, “isto são músicas que já só escutamos ou em casa ou no carro”, numa alusão às opções musicais que os bares e discotecas vão teimando em manter. Curiosamente, as músicas do “pum-pum” não são muito consideradas nem valorizadas pela população que responde aos rigorosos estudos realizados pelas grandes cadeias de rádio. Ou seja, e a menos que a população que é aleatoriamente contactada para colaborar nos estudos de opinião seja diametralmente oposta aos clientes dos estabelecimentos de diversão nocturna, alguma coisa permanece uma gigantesca incógnita no que concerne às músicas que passam nestes locais. Enfim, ontem, tivemos, nos antigos Dias Atlânticos, uma noite em cheio e com uma animação de louvar.

Os anos passam e nada permanece igual. O local é o mesmo, mas muita coisa sucedeu desde que os Dias Atlânticos fecharam as portas. O recinto já conheceu épocas mais gloriosas e mais condizentes com a sua história. A organização da festa fez o que pôde para minorar alguma natural decadência. As colunas foram alugadas. As luzes eram sofríveis. Porém, quem faz o sucesso de uma festa são as pessoas. E aquelas pessoas estavam-se nas tintas para o acessório. O importante era a emoção e o sentimento que as rodeava. O balanço da noite revivalista que decorreu nos Dias Atlânticos só pode resumir-se a uma palavra: sucesso.

Já não estava com o Lucas há muitos anos e, durante a noite, foi possível irmos recordando aspectos e histórias dos tempos dos Dias Atlânticos. Num momento em que estávamos a olhar para o ambiente que se vivia, Lucas comentava que os Dias tinham sido uma discoteca marcante. De facto, somente uma discoteca que tivesse marcado uma geração poderia reunir tanta gente. Reencontros à parte, também tive oportunidade de conhecer pessoas novas que eram antigos clientes dos Dias, incluindo, Carmen Botelho, que em boa hora concebeu o cartaz/convite da iniciativa.

Após um sucesso como este, toda a gente aguarda para ver o que se seguirá. Dentro do formato “Dias Atlânticos”, muita coisa pode fazer sentido, porém, em matéria de revivalismo puro e duro, uma ou duas festas por ano já seria muito bom.

Esta foi uma rara e magnífica noite atlântica.








Visita recomendada ao blogue Santo_André_Ontem_Hoje_Amanhã

24.7.09

As palhas não bulem

“quase todas as canções foram belas e nem uma palha buliu: se o concerto começou calmo, bem calminho acabou.” João Bonifácio, Público, 27 de Junho de 2007 (concerto de Aimee Mann)

“O Belenenses joga e há duas dezenas de velhinhos nas bancadas, nem uma palha bule, é um sossego.” João Bonifácio, Público, 20 de Julho de 2009 (festival SBSR)

Todos os meus amigos assim como demais população que acompanha o meu blogue sabe que sou sócio do Belenenses. Um daqueles associados que tem “quota azul” e que a utiliza para assistir a 5 ou 6 jogos por época. Também, toda a gente sabe as ligações que teimo em manter ao mundo da música e ao jornalismo. Enfim, são gostos e opções que nem sei bem quando surgiram.

Hoje, vou misturar futebol com música e dar uma opinião pessoal sobre uma polémica que agitou a última semana. Quem acompanha o jornalismo musical português conhece bem o nome em questão. João Bonifácio é famoso pelos seus textos altamente críticos e devastadores para com os diversos artistas que têm o azar de estarem na mesma sala que ele. Também é conhecido por ter feito uma série de confusões numa entrevista a Camané, quando traduziu a palavra “ombre” da canção “Ne Me Quittes Pas” de Jacques Brel para “ombro”. Só que em francês “ombre” é “sombra”. Assim sendo, os versos “deixa-me ser a sombra da tua sombra / a sombra da tua mão / a sombra do teu cão”, transformaram-se em “deixa-me ser o ombro do teu ombro / o ombro da tua mão / o ombro do teu cão”.

Porém, creio que aquilo que ocorreu no passado dia 20 de Julho foi o ponto mais alto da sua contestada carreira. Entre ataques ferozes a tudo o que mexeu musicalmente no Festival SBSR, João Bonifácio decidiu apimentar o texto com diversas menções ao Clube que é proprietário do estádio onde ocorreu o evento. Desde referências às alegadas “duas dezenas de velhinhos” que assistem aos jogos (oficialmente, na época passada, o Belenenses foi o sétimo clube em assistências, com mais de 4 mil espectadores por jogo), passando por afirmações de que fazer algo do género naquele local quase parecia “uma acção de beneficência” pode-se ler de tudo um pouco.

Nesta matéria de “beneficência”, o Restelo tem estado desde sempre associado a grandes acontecimentos musicais, pelo que, as considerações realizadas ao Clube e ao Estádio pecam, igualmente, por esquecimento ou outra coisa qualquer. Recordo-me, ainda muito bem, da loucura que foi a vinda dos Police (1980), Roxy Music (1982) ou de Rod Stewart (1983). Mais recentemente, por lá passaram Metallica (1996), Pearl Jam (2000), Smashing Pumpkins (2000) ou Lenny Kravitz (2002). Mesmo o Pavilhão do Belenenses tem histórias importantes para contar. Classic Noveaux ou Xutos & Pontapés (o clássico triplo ao vivo foi lá gravado) são excelentes exemplos. O próprio Clube tem ligações estreitas ao meio artístico e Carlos do Carmo, Raul Solnado, João Pedro Pais, Francisco Nicholson ou Luís Represas são outras personalidades bem conhecidas que são sócias do Belém. A maior figura da música portuguesa de todos os tempos, Amália Rodrigues, era, igualmente, belenense. Ou seja, tanto o Estádio do Restelo como o próprio Clube possuem ligações históricas, afectivas e efectivas ao mundo musical e artístico.

Quem me conhece sabe bem que sou um defensor da liberdade de opinião e de expressão. Tenho tudo a favor de uma escrita mordaz e demolidora quando se avalia negativamente um espectáculo. A questão é que tal deve e pode ser realizado de forma correcta e sem que pareça estarmos no meio de um cenário de guerra. A língua portuguesa é suficientemente rica para que consigamos adjectivar sem que ultrapassemos a fronteira da visão crítica e entremos num campo de agressão verbal injustificável. Falar do Belenenses da maneira que João Bonifácio o fez só poderia ter maus resultados. Talvez a habitual pacatez com que os homens do Restelo reagem a situações que fariam perder a cabeça a todos os outros clubes nacionais ajudem a compreender o atrevimento. Todavia, desta feita, a situação entrou em descontrolo total e não faço ideia do que sucederia se João Bonifácio aparecesse bem identificado pelo Estádio do Restelo. O feedback ao que escreveu foi de tal ordem, que, ontem, em editorial, o jornal Público, através de Nuno Pacheco, apresentava as suas desculpas, afirmando que “(...) o Belenenses, pela sua história, actividade e prestígio, merece um público e sincero pedido de desculpas (...)”.

Aparentemente, e por muito estranho que possa parecer, devemos retirar dois ensinamentos de tudo isto. O primeiro é que, quando a Direcção reage, o nome do Belenenses não é achincalhado; o segundo é menos evidente, mas, absolutamente óbvio: apesar da fixação e da insistência nessa ideia, a palha não bule.

Na verdade, o meu avô costumava usar a palha para alimentar o gado.


links interessantes:
Texto de João Bonifácio
Notícia Blitz
Provedor do Público

14.6.09

TAXI - Amanhã

UM REGRESSO DE ALTO RISCO





Ontem

Os anos passam e, quando olhamos para trás, ficamos muitas vezes perplexos. O fenómeno que ocorreu em 1980 e que se estendeu durante pouco mais de 2 anos revolucionou toda a música eléctrica portuguesa e foi vivido de forma rápida e intensa.
As bandas de sucesso foram sugadas até ao tutano com discos atrás de discos e sem que tivessem o tempo correcto para um melhor e maior amadurecimento. Infelizmente, esta é uma causa recorrentemente ignorada quando se analisa o “crash” do “boom”. Se pensarmos nos casos flagrantes dos dois projectos nacionais de maior sucesso nessa época, UHF e Taxi, em 1981 e 1982, os primeiros editaram dois álbuns e um mini-LP e os segundos dois álbuns. Todas estas edições venderam como ginjas e, durante esses dois anos, tanto os Taxi como os UHF percorreram o país de lés-a-lés, numa época sem auto-estradas e com condições logísticas e organizativas pré-históricas. A intensidade destes anos teve como resultado uma tremenda ressaca global e, também, motivou consequências internas aos projectos.

Os Taxi foram um caso exemplar da sociedade de consumo imediato. Após o gigantesco sucesso do seu álbum de estreia editado em 81, mandaria a razoabilidade e o bom senso que fossem bem aproveitados os “n” singles que o LP poderia proporcionar. Não o foram e a decisão passou por avançar a toda a velocidade para “Cairo” (1982). Para completar o ramalhete, a banda ainda foi espremida em 1983 com mais um álbum, “Salutz”. As consequências foram devastadoras para o grupo. Depois de terem editado o disco mais eficaz da história da música pop-rock nacional, nunca devia ter saído, no ano seguinte, o álbum “Cairo”. O desejável seria deixar respirar a banda, deixar que o grupo amadurecesse e que o LP seguinte tivesse surgido mais tarde. Na altura, as edições somavam-se a elevado ritmo e nem sempre o melhor para a indústria representa o ideal para o processo de crescimento dos projectos. Pelo contrário, os interesses de uma editora muitas vezes chocam com o mais elementar conceito do que deve ser a gestão da carreira de um grupo ou artista – e, em Portugal, o conceito de “gestão de carreira” é outro tema interessante para reflectir com seriedade.

A esta questão de produtividade excessiva somou-se um certo atrevimento dos Taxi a partir do momento em que se cansaram de dar voltas a Portugal. Em 1987, lançam um álbum totalmente em inglês, precisamente na altura em que se assistia a um ressurgimento da música eléctrica cantada em português, liderado pelo trabalho “Circo de Feras” dos Xutos & Pontapés. A aposta no inglês, a maturidade musical apresentada, a ausência de um imediatismo existente nas composições iniciais, a recepção distante da comunicação social e um “deixar cair” promocional por parte da editora que tanto dinheiro tinha ganho com eles no passado conduziram a que os Taxi tivessem estacionado a viatura. Canções como “Scream’in love”, “Goodbye Charlie”, “Never on sunday” e, sobretudo, o fantástico “Dance, dance, dance” mereciam outro reconhecimento popular. Também, o facto de João Grande, Henrique Oliveira, Rui Taborda e Rodrigo Freitas se terem mantido fiéis ao Porto os desfavoreceu num mercado em que Lisboa era o centro decisório de tudo. Viver longe da Capital era (e ainda é) um factor negativo para a carreira de qualquer músico que se queira no topo.

Em 1999, existiu um primeiro esboço de eventual regresso. A colectânea “O céu pode esperar” foi bem preparada e deixou no ar uma possibilidade de retoma à actividade. Porém, faltou um ou dois inéditos que puxassem pelo disco, pelo regresso da banda e que possibilitassem uma promoção rádio e TV condignas. Acabou por ser uma oportunidade perdida. Na realidade, ao longo de todo este tempo, jamais algum grupo conseguiu ocupar o seu espaço e a popularidade das suas canções permanece em alta. 22 anos foi um tempo de ausência excessivo ou o regresso é, em si mesmo, um risco demasiado elevado e que os Taxi não deviam ter assumido?

Quando se alcança o patamar das lendas é prudente um regresso ao activo?

Quando se alcança um estatuto de lenda jamais é prudente regressar. E, mesmo com uma gigantesca máquina por detrás, é sempre um risco tremendo. Que o digam os Queen (pela negativa) ou os Eagles (pela positiva). Os portugueses Taxi decidiram voltar com novo álbum de originais e sem qualquer digressão nostálgica que o antecedesse. Compreendo que, mais de 20 anos depois, os músicos dos Taxi não tenham muita pachorra para tocarem, numa digressão, apenas canções editadas entre 1981 e 1987. Com o assumir do risco, o presente chama-se “Amanhã”.



“Amanhã”

O novo álbum é bastante complicado de ser analisado de forma isenta e imparcial por qualquer crítico que se debruce sobre o mesmo, sobretudo, se conhecer profundamente a obra gravada, como é o caso deste vosso escriba. Fosse o disco de um novo projecto e seria simples; fosse uma edição de um grupo veterano com carreira constante e também o seria. O problema é que estamos na presença do novo álbum dos Taxi, um grupo que deixou o patamar dos vivos em 1987 e que conquistou, com os seus dois primeiros LP’s, o direito a uma canonização popular.

A forma fácil de avaliar o álbum é conhecida. Se as músicas forem parecidas às do passado significa que o grupo estagnou e nada de novo tem a mostrar; se a sonoridade mudou é porque o grupo devia ter composto mais temas semelhantes aos dos dias de glória. Mesmo assim, “Amanhã”, quer seja considerado genial ou desastroso, nada irá influir no mapa de concertos para os próximos dois anos porque toda a gente tem saudades dos homens da “Chiclete”. Por mais desagradável que esta afirmação possa parecer, o principal trunfo dos Taxi de hoje é serem os Taxi de ontem. Quer isto dizer que “Amanhã” é um álbum vazio de significado e de importância para a própria vida da banda? Não, longe disso. “Amanhã” é um disco importante para um grupo que tenha vindo para ficar. “Amanhã” é um trabalho nuclear para que se verifique do prazo de validade do projecto e uma resposta a todas as questões que estes regressos à vida sempre provocam.

Os músicos estão mais velhos. 22 anos mais velhos desde “The night”. Curiosamente, tocam melhor do que em 1981. A sonoridade, que sempre mudou bastante no passado, tem uma marca característica de Taxi. Mas, será “Amanhã” um álbum que corresponde ao que os fãs dos Taxi gostariam? Manterão uma atitude adolescente mesmo depois dos 50 anos?

“Vai começar uma viagem sem pressa de chegar ao fim”

A primeira canção do álbum é como que um sinal para esta nova viagem dos Taxi. “Até ao fim” é um tema pop descontraído com uma letra solta, apaixonada e atrevida em que “dois corpos deitados repousam ao luar”. A abertura não poderia ter sido melhor e respiramos um cálice de “Taxi vintage” porque “Até ao fim” é do mais comercial que algum dia estes rapazes compuseram. Com um máximo de 3 audições, toda a gente sabe a letra de cor e o difícil será não trautear o refrão ao longo do resto do dia. Com todo este balanço, entra-se na faixa seguinte com o receio de já se ter escutado o melhor do álbum. Mas não, o tema título do trabalho, “Amanhã”, é outra canção de sucesso e que, dentro em breve, será mais um clássico. A letra é menos adolescente, mas, a música leva-nos para o álbum “Cairo”, mesmo que não se consiga encontrar razões objectivas para que tal suceda. Após duas músicas e duas setas no centro do alvo, caminhamos em direcção a um número importante em todos os trabalhos – o 3. O terceiro tema é surpreendente. Não se trata, apenas, de uma evolução, mas de uma novidade sonora. “Antes de amanhecer” é muito bonito, uma falsa ameaça de slow que vai em crescendo à medida que avança. É uma daquelas faixas onde se descobrem pormenores novos cada vez que se escuta e que ganhará estatuto de clássico. A canção seguinte, “24 horas”, é mais pop dançável e com refrão para cantar e chorar por mais. A dose pop prossegue com “Estranho em mim” e “Nunca”, enquanto “Tudo vai mudar” entra em tons mais blues e calmos, surpreendendo de novo. Em “Sem contradição”, voltamos a acelerar e entramos na recta final do álbum. Esta é uma canção bilingue, português e inglês, onde é explorada uma letra que resulta na perfeição. O ritmo, esse, vai continuando dançável e descontraído. “Não sei se sei” só não é uma surpresa porque encarna com mestria as minhas previsões do que seriam os Taxi do século XXI. Com tonalidades de balada e com uma saliente malha de guitarra fundem-se palavras, acordes e ritmo numa respiração una. Curiosamente, é o primeiro tema a passar nas rádios e a sua frescura promete contagiar o público. As letras deste disco permanecem na mesma linha a que os Taxi nos haviam habituado. A diversão é o cerne de tudo e as palavras são tão leves como eficazes, num mundo de ilusões imaginárias, em que a paixão descomprometida e inocente marca presença permanente. A excepção é marcada no último tema. “Utopia nacional” é uma canção interventiva de crítica social em ritmo próximo do punk-rock e que nos transporta para momentos em que a música rock nacional se limitava a ser directa. Poderia, perfeitamente, ter pertencido ao álbum de estreia em 1981.

Instrumentalmente, Rodrigo Freitas tem aqui o seu melhor trabalho de bateria, Rui Taborda permanece uma máquina no baixo e Henrique Oliveira parece ter tocado diariamente guitarra, ao longo dos últimos 22 anos. A voz de João Grande cresceu e está, hoje, mais grave do que nos anos 80.

Ao longo destas dez canções, sobressaem influências, géneros musicais e a inspiração própria de quem pode fazer o que quiser. Mesmo com letras alegres e melodias com o balanço certeiro para uma pista de dança, não deixamos de encontrar temas com certa dose de melancolia. Da mesma forma, a opção de usar o inglês numa das músicas vem criar uma ponte com o passado e deixar em aberto novas experiências futuras. Mais do que um álbum fechado, “Amanhã” é uma porta aberta para novas aventuras.

Em boa hora os Taxi deixaram as pantufas e decidiram saltar para o palco. Estamos na presença de um trabalho forte e que vai marcar o futuro dos Taxi. A existir uma aposta das rádios, há aqui temas suficientes para fazer de “Amanhã” um caso sério de airplay. Sem pretender estabelecer comparações qualitativas entre álbuns que distam entre si mais de 20 anos, os quatro elementos dos Taxi têm razões para se sentirem orgulhosos, optimistas e com a consciência tranquila por este arriscado regresso. “Amanhã” é um álbum para recordar e possui imensas canções de sucesso, daquelas escritas por acaso e que entrarão nos seus próximos “best of”. O mais surpreendente é que estamos na presença de músicos com uma idade superior aos 50 anos e que conseguem manter um espírito adolescente na esmagadora maioria das canções. Naturalmente que a maturidade musical é notória, mas que grupo se pode orgulhar de conseguir juntar o melhor de dois mundos? Mais do que um novo trabalho dos Taxi, este podia ser o primeiro disco de uma carreira. Resta aguardar para ver a reacção do público a esta edição que só consigo apelidar com uma palavra: Histórica.

Estaremos no paraíso? Não, o céu vai querer esperar.

2.4.09

Futuro fecha portas

Foi com desalento que recebi a comunicação de que o blogue “Futuro Belenenses” fechou as portas. Um dos mais inspirados e acutilantes espaços da blogosfera portuguesa e que durante largos períodos temporais se revelou uma bomba opinativa em tons de azul parece que sumiu. Apesar do período áureo coincidir com a época de Cabral Ferreira enquanto presidente da Direcção, este blogue, mesmo sem a mesma pujança do início, permanecia uma referência de irreverência e de inteligência. Eu próprio colaborei em uma ou duas ocasiões com o “Futuro Belenenses” e recordo que foi este blogue o primeiro a divulgar a vitória de Cabral Ferreira na sua segunda e última eleição enquanto presidente do Belenenses. O estilo literário praticado deixou muita gente próxima de ataques de fúria, pois, a agressiva frontalidade era dura e complicada de digerir pelos visados. A defesa que foi feita pela extinção do Conselho Geral não deixou ninguém indiferente. A não indiferença é um marco que só os mais afoitos conseguem alcançar. Ser polémico não é complicado, o difícil é ser incómodo. E, quer se concordasse ou não com os seus conteúdos, este blogue era extremamente incómodo porque tocava nas feridas. Um abraço ao meu amigo João Pela e espero que a sua corrosão positiva permaneça intocável e acessível a todos nós em projectos futuros. O blogue sumiu mas ele anda por ai.João Pela com o grande Vicente Lucas. Foto de Telmo Carvalho.

24.2.09

50 conversas depois



A minha colaboração com a Miróbriga tem-se revestido de diversos e variados formatos ao longo destes mais de 20 anos de existência da rádio sediada em Santiago do Cacém. Ao nível da programação tenho variado entre emissões mais descontraídas e outras mais complexas. Actualmente mantenho o espaço onde divulgo semanalmente um álbum novo (“banco de ensaio” é transmitido aos sábados no Atlântico) e conduzo uma emissão onde se realizam comentários aos grandes temas da semana.

Alexandre Rosa é o nome da personalidade que semanalmente comenta um conjunto de situações nem sempre tão simples como muitas vezes aparentam. Os seus vastos conhecimentos nas diversas temáticas, conjugados com uma atitude construtiva e onde a crítica pela crítica não tem lugar fazem-me sentir orgulhoso destas 50 emissões.

Apesar das nossas vidas sempre ocupadas e agitadas, na verdade, o interesse e a motivação colocados na preparação dos programas deixa-me bastante satisfeito. A marca atingida de 50 emissões é um número redondo e que convida a celebrações. Tenho consciência que mesmo com toda a boa vontade do mundo será difícil conseguirmos atingir a centésima edição.

Daqui deste meu blogue deixo um abraço e o meu agradecimento pessoal a Alexandre Rosa por ter aceite o meu desafio. E, tão ou mais marcante, devo realçar a amizade que estas 50 edições têm permitido cimentar. Mais importante do que tudo o resto são as amizades que vamos travando ao logo das nossas vidas, que nos enriquecem e nos fazem sentir vivos.

19.2.09

Dias intensos com noites de glória

1992 foi o ano dos Sitiados.

O panorama da música moderna em Portugal estava em grande, com a construção do catálogo nacional da BMG que viria a gravar diversos grupos e que contribuiu, decisivamente, para um dos fenómenos da nossa indústria nos anos 90.

Conheci alguns dos elementos dos Sitiados no decurso da Conferência de Imprensa que a R&B promoveu a propósito dos concertos dos UHF nos Coliseus de Lisboa e Porto, em Fevereiro de 1992. Com o disco a sair poucos dias depois dos Coliseus, a BMG não perdeu a oportunidade que a visibilidade deste evento possibilitaria.

A conversa que mantive nessa tarde com João Aguardela e com Sandra Baptista foi curta, mas ficaram estabelecidos os laços suficientes para que, ao longo desse ano, convivesse com eles noutros momentos. Recordo-me de uma entrevista em directo no “Rock de cá”, nos estúdios da Miróbriga, no dia em que Sitiados arrasaram no recinto da Feira, em Santiago do Cacém; recordo-me de termos estado na Sociedade Harmonia a jogar bilhar e, mais tarde, de termos terminado a noite nos “Dias Atlânticos”, até horas que roçaram o amanhecer. Recordo-me de ir ter com eles a uma vivenda na zona do Restelo, numa fase posterior em que já estavam a ensaiar os temas do segundo álbum; recordo-me do jantar que se seguiu e dos projectos estruturados que existiam. E lembro-me da enorme consciência que João Aguardela sempre teve do “presente”, nunca entrando em deslumbramentos que o sucesso tantas vezes provoca.

Ainda antes de estar confirmado o concerto em Santiago do Cacém, em Maio de 1992, dediquei uma das emissões do “Rock de cá” aos Sitiados. Encontrei-me com João Aguardela na tarde do espectáculo que eles deram na Semana Académica de Lisboa. O encontro foi, novamente, bastante afável e, mesmo no meio do barulho próprio de um PA que debitava uns bons decibéis, tivemos uma conversa que procurou sintetizar toda a carreira dos Sitiados. Desde o seu início, passando pelo registo “A noite” e culminando nos 3 meses de edição do álbum. “Vida de marinheiro” era um sucesso crescente, mas ainda não era o êxito que, pouco depois, levaria os Sitiados a todas as terras de Portugal.
Enquanto registo histórico e como pequena e modesta homenagem a João Aguardela, disponibilizo a conversa que tivemos nessa tarde.

À noite, o concerto foi fantástico e com uma energia contagiante. João Aguardela sempre foi um caso único em palco. O tempo passou, o “Rock de cá” deu lugar a um programa de debates políticos, a seguir fui manager dos k2o3 e, mesmo por dentro do meio musical, acabei por distanciar-me de algumas amizades. Os anos 90 chegaram ao fim e os Sitiados também. Tenho saudades desses anos, dessa época e das pequenas histórias que tive o privilégio de viver na companhia de João Aguardela.

Clicar para escutar conversa com João Aguardela.

Em alternativa pode fazer o download do ficheiro para o seu computador. Para tal deve posicionar o cursor do rato no link desejado e clicar com o botão direito escolhendo a opção "save target as..."ou "save link as..." dependendo do browser utilizado.

31.1.09

30 anos ligados à tomada

Ainda o texto anterior estava a ser concluído e surge-me mais uma história que liga, de forma peculiar, os UHF e os Xutos & Pontapés.

Fui hoje surpreendido por um email que me dava conta de mais um caso que envolvia o Blitz e os UHF. Suspirei de alívio… nos últimos meses sempre que escuto a palavra “caso” imagino de imediato que mais alguma coisa estará para suceder ao meu Belenenses. Felizmente, desta vez, a situação era com uma instituição mais habituada a embrulhadas desta índole. Aliás, quando se fala de Blitz e se acrescenta a sigla UHF é porque a situação é polémica. Ou por ao longo de anos ter o então jornal primado por omissões de factos importantes que envolvessem um dos principais grupos portugueses ou por redigirem críticas negativas em relação a muitas das actividades da banda. Felizmente, vivemos em democracia e se hoje os UHF têm menos projecção do que em 1980, na verdade, a Blitz, apesar de ter mudado de sexo, não parece recuperar de uma lenta e contínua agonia.

Vem isto a propósito do título de um artigo de fundo. Mas já lá vamos com certa dose de paciência. Como todos sabemos existem dois grupos que marcaram o rock português de forma intensa. Os primeiros, os UHF, atingiram a fama muito cedo e em 1980 já eram campeões na estrada; os segundos, os Xutos & Pontapés, iniciaram a carreira pouco depois, mas somente conquistaram a glória em 1987. Os primeiros foram sempre um reflexo do seu obstinado líder; os segundos sempre foram um grupo onde todos ocuparam um espaço próprio. Os primeiros eram incómodos, agressivos e nunca conviveram bem com o poder instalado; os segundos foram de punks a comendadores. Os primeiros fizeram a digressão dos 30 anos em 2008, começaram na Aula Magna e finalizaram na Academia Almadense; os segundos fazem este ano a mesma idade e irão terminar a digressão no Estádio do Restelo.

Afinal, qual dos dois teve “30 anos ligado à corrente”? Os primeiros porque foi esse o nome da digressão do ano passado ou os segundos porque uma revista assim o escreve? E porque motivo o Blitz usa essa expressão para destacar os segundos e não esteve presente no dia 20 de Dezembro em Almada para contar como foi a celebração da digressão dos primeiros e que tinha essa exacta designação? O recurso a este título será uma rara coincidência, uma gritante falta de imaginação, um retomar de um amor antigo ou um mero fruto do subconsciente? Como se fosse algo que muito desejamos e que não conseguimos ou que não temos coragem de ter?

A dose de incomodidade entre os UHF e o Blitz remonta a tempos muito antigos. Quando o jornal nasceu eram os UHF a banda “instituição” do rock português. É aceitável que quem queira ser alternativo busque montras independentes e ataque o que é mais popular. Porém, nunca compreendi bem os motivos e jamais se perceberam as razões. Se quisermos ir fundo nas coisas é importante recordar que já em 27 de Novembro de 1984, Rui Monteiro escrevia no número 4 deste jornal, um artigo sobre os UHF e com o título “Sempre as mesmas músicas”. Curioso é que, em 1984, já tinham os UHF editado mais do triplo dos discos que vários grupos “famosos” apadrinhados pelo Blitz conseguiram gravar nas suas vastas e fugazes carreiras. Também engraçado é que o álbum de estúdio seguinte foi apenas o “Noites negras de azul”. Quanto a mais do mesmo, não é uma das vantagens dos predestinados o criarem uma sonoridade que os identifique? Não é assim com os Stones? Não é uma das vantagens dos Xutos dizermos que “esta nova música é mesmo à Xutos?”. Não foi um dos motivos de críticas a projectos como os Taxi, o ser afirmado que “eles mudavam muito de álbum para álbum”? Estaremos defronte da eterna situação de ser preso por ter cão e ser preso por não o ter?

Existem projectos ligados à corrente durante 30 anos e com público nos concertos. Infelizmente, existem outros projectos ligados à corrente só para que se mantenham num estado vegetativo. É a vida nesta nossa pequena indústria musical quando ninguém tem coragem para desligar a máquina.

24.1.09

De mal a melhor

O futebol português vai de mal a cada vez pior.

Após a embrulhada que foi dar novo significado à expressão “goal average”, nova polémica rebentou devido ao regulamento da Taça da Liga. Aparentemente, o Futebol Clube do Porto não cumpriu o pressuposto na utilização de jogadores efectivos (clicar aqui) e tem em risco a sua continuidade na prova. Claro que a Liga já esclareceu que um jogador efectivo num determinado encontro é exactamente igual a um suplente desde que tenha sido utilizado ao longo do jogo – o que contraria o regulamento das competições e o senso comum de qualquer mortal.

Infelizmente devemos estar na presença de mais uma leitura “actualista” dos regulamentos, das expressões e dos seus significados. Com tamanha dose de disparates nestas regras ficamos na dúvida se as mesmas foram escritas na Cervejaria Trindade ou na Cervejaria Portugália – depois de ter sido patrocinada por uma empresa de apostas a Liga principal não é apoiada por uma marca de cervejas?

Por outro lado, o chefe dos árbitros, Vítor Pereira - o homem que enquanto profissional do apito também tinha os seus “erros” -, considera que as “pessoas que não acreditam no futebol não devem ir ao futebol”. Além de usar duas vezes a palavra futebol na mesma frase – o que sugiro que não faça recorrentemente porque prejudica gravemente a passagem da mensagem e é um mau exemplo para a juventude em idade escolar – parece-me que os portugueses já lhe fizeram a vontade. Talvez ele dos camarotes não tenha reparado, mas, os estádios estão vazios!

Depois da minha experiência na Amadora já tinha decidido fazer a vontade a Vítor Pereira em todos os jogos que não sejam no Restelo.


PS: Para os mais distraidos sugiro os meus posts sobre o encontro na Amadora. Aqui e aqui.

21.1.09

Gente esperta não aprende línguas

Antigamente dizia o povo “que burro velho não aprende línguas”. Como o burro é um animal em vias de extinção e eu poderia vir a sofrer algum tipo de represálias por parte de alguns amigos que pertencem a associações protectoras dos animais decidi adaptar o adágio popular àquilo que se designa por “politicamente correcto”.

Vem esta ladainha inicial a propósito do novo escândalo que envolve o Belenenses. Aliás, as palavras “escândalo” e “Belenenses” começam a estar perigosa e insistentemente coladas. É de tal ordem que mais de metade das palermices que são feitas no nosso futebol acabam por atingir o Belenenses. Como não sou muito virado para fatalismos só poderei especular se ainda estamos no foro da “teoria” ou já mergulhámos inteiramente na “conspiração”.

Aos tradicionais e populares “erros” dos senhores que se dizem juízes de campo – incluindo expulsão de um jogador por “engano”, ausência de “visão” em lances duvidosos e tontaria na anulação de um golo cheio de paixão – juntamos outros momentos mágicos. Que dizer do Belenenses ser o único clube alvo de uma reclamação por ter utilizado um jogador que está 100% bem inscrito? Ou que se poderá pensar daquela ocasião civilizacional de elevado nível, quando uma faixa foi exibida por seres humanos, racionais e instruídos que se regozijaram pela morte de um antigo presidente azul. Tudo “numa boa” e sem consequências para quem comete “erros”, infringe “regras” ou acha que a morte de alguém é motivo de celebração pública?

No meio deste festim só faltava mais um momento esquizofrénico digno de douto parecer de fazer inveja a personalidades como Marcelo Rebelo de Sousa ou Diogo Freitas do Amaral. Pasme-se, que, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional decide esclarecer Portugal, a Europa e o Mundo da bola que a expressão “goal average” é exactamente igual a “superior goal difference”.

Aplicando, com efeitos retroactivos, esta nova interpretação à expressão “goal average” imaginemos o que sucederia em Campeonatos do Mundo, Campeonatos da Europa, principais campeonatos dos diversos países mundiais, etc. Provavelmente nem todo o ouro da Reserva Federal Norte-Americana daria para pagar as indemnizações que os “prejudicados” do passado teriam de receber por se considerar que “goal average” significava “diferença de golos” e não “média de golos”.

O momento exige alguma concentração para não nos rirmos a bandeiras despregadas. É que todos já percebemos o final do filme. Quem é que em igualdade pontual foi eliminado? Qual é o primeiro clube no mundo que foi prejudicado por este novo significado da expressão “goal average”? Pois, têm razão. Este é o novo escândalo que envolve o Belenenses!


A gerência deste blogue unipessoal sugere uma visita ao blogue “Briosa” – que levantou esta pertinente questão – e lança um repto para que uma das escolas por correspondência ofereça o curso de inglês rudimentar “De Chico esperto a expert em apenas 30 minutos” a esta gente esperta.

10.12.08

Chamem a polícia

A diferença entre o erro humano e a intenção propositada de prejudicar um clube de futebol é de difícil fronteira, pois, existirá sempre a dúvida se essa falha foi mesmo intencional ou resultado de um erro involuntário. Quando estamos na presença de erro devemos assumir que a lei das probabilidades será respeitada e que a tendência, ao longo de 90 minutos, será de enganos equilibrados para as duas equipas em confronto.

Quanto tal não sucede e a equipa prejudicada é sempre a mesma, difícil será acreditar que a razão aleatória do erro suceda sempre para o mesmo lado. A científica lei das probabilidades assim o contesta e o bom senso também o contradiz.

Sendo o futebol um jogo exigente e com elevada competitividade, acaba por ser habitual a existência de erros. Também é habitual que os clubes reclamem quando se sentem injustiçados e recorram às instâncias desportivas da Liga ou da Federação, consoante a competição em causa.

Vem esta introdução a propósito de algumas arbitragens que têm calhado ao Clube de Futebol “Os Belenenses” ao longo deste campeonato. Os jogos na Amadora e no Funchal mostraram, a todo o país, árbitros que erraram sempre para um mesmo lado e sempre através de erros escandalosos que tiveram consequência directa no resultado final.

Ao verificarmos estas ocorrências podemos questionar a falha involuntária. E passamos a ter toda a legitimidade para interrogar se estamos na presença de algo mais sério, que ultrapasse a justiça desportiva. O facto de situações tão bizarras como as verificadas na Amadora ou no Funchal acontecerem num desporto que movimenta largos milhões de euros já é, suficientemente, grave; porém, a gravidade aumenta quando se sabe que o Belenenses vive momento financeiro, particularmente, complicado e que a descida de divisão poderá ter consequências explosivas na sobrevivência da colectividade. Ora, sabendo-se que os terrenos que o clube possui no Restelo são uma verdadeira mina de diamantes, uma oportunidade de negócio de dimensões gigantescas, não é mera teoria da conspiração questionar se não existem elevados interesses num cenário que conduza à extinção do Belenenses. Na verdade, ao longo dos últimos anos, diversas têm sido as tentativas, fracassadas, do clube poder rentabilizar o seu milionário património. Todavia, num dia em que o Belenenses encerre, alguém crê que aqueles terrenos sejam preservados para a prática desportiva?

Quanto às ocorrências recentes, parece-me que uma denúncia para possível investigação criminal seria o mais sensato porque conversas inconsequentes com quem faz parte do problema não nos levarão a lado nenhum. Atente-se nas declarações de António Sérgio, presidente da APAF, o qual – sem investigar, rigorosamente, nada – afirma não existir qualquer perseguição dos árbitros. Deviam ser as próprias pessoas sérias, que acredito que ainda existam no mundo cão da bola, a exigir a intervenção de quem de direito. Erros graves deviam motivar penalizações desportivas e erros deliberados deviam ser penalizados em tribunal. Se um árbitro não erra mas, deliberadamente, prejudica um clube, isso não é desporto, mas um caso de polícia.

27.11.08

A melhor prenda de Natal

A melhor prenda de Natal vai surgir no dia 20 de Dezembro em Almada. Os maus rapazes da música portuguesa encerram a celebração de 30 anos de carreira na cidade que os viu nascer. O concerto, que promete partir as estruturas do Cinema da Academia Almadense, tem lotação limitada a 833 lugares e vai contar com participações especiais dignas de incendiar qualquer fã que se preze. Renato Gomes e Carlos Peres irão estar em palco e o acontecimento promete bastante. Espero que exista gravação de imagens para posterior edição em DVD.

Como aperitivo, os UHF disponibilizam a nova canção, "O tempo é meu amigo", no seu myspace. O tempo pode ser mau amigo de todos nós, mas, uma coisa é certa, 30 anos depois, o tempo deu razão ao persona non grata do rock português. António Manuel Ribeiro está em cima de um palco enquanto outros fizeram as malas e se reformaram.

Os bilhetes podem ser comprados através da internet em ticketline ou nos locais habituais.

9.11.08

A verdade, a consequência e o logro

A aragem da asneira foi sentida em todo o território futebolístico nacional. Bem, não foi em todo o território porque o eco do escândalo foi, lamentavelmente, discreto. Em vez de abrirmos telejornais tivemos notas de rodapé nos jornais desportivos. O trabalho de Marco Ferreira e do seu auxiliar, de quem ignoro o nome, passou a figurar, por mérito próprio, nos anais das maiores aberrações que ocorreram dentro de um estádio português e que envolveram gentes da arte do apito. O “equívoco” foi tão grosseiro que a Comissão Disciplinar da Liga foi lesta a retirar um amarelo a Wender e a atribuí-lo a China. Este “sumaríssimo” deve ser louvado porque não basta criticar quando as decisões não nos agradam. Agiu muito bem a CD ao repor essa parte da verdade. Infelizmente, esta acção pecou por defeito. Se para a justiça desportiva ficou provado o “erro grosseiro” ao ponto de disciplinarmente o rectificar, permaneceu por assumir a consequência óbvia desta decisão. Enquanto o Belenenses teve 11 jogadores foi superior ao Estrela da Amadora e estava a vencer ao fatídico minuto da incorrecta expulsão. Face a esta evidência seria natural uma decisão para que o jogo fosse repetido a partir desse minuto. Isto em nome da verdade desportiva que todos nós defendemos. Ao apenas ser reconhecido o “erro” mas não levar as consequências deste até ao fim, a correcção tem pouco impacto, pois, a história do jogo foi escrita tendo na raiz uma monstruosidade.
Na prática, este reconhecimento de pouco serve e ainda não vimos qualquer penalização exemplar para os agentes de tão lamentável “erro”. Além da instauração de um sumaríssimo para Marco Ferreira e assistente, o presidente dos árbitros já devia ter vindo explicar-se e pedir desculpa a quem pagou bilhete para assistir a um jogo de futebol e acabou por presenciar uma gigantesca palhaçada que entristece qualquer pessoa “dita normal e honesta”.
Para o Belenenses este foi somente mais um jogo em que foi objectivamente prejudicado, mas, para Marco Ferreira este foi o jogo que o irá marcar até ao fim dos seus dias enquanto soprador de um apito.

Não pode valer tudo neste mundo do futebol.
Não podemos querer credibilizar um negócio de milhões com a indecência de não limpar os podres visíveis.
Não podemos pagar bilhetes de 20 euros para estar sentados em cadeiras imundas – o meu casaco teve de ir para uma limpeza a seco.
Não nos podem vender uma entrada para um espectáculo desportivo e depois sermos presenteados com um refinado número do “conto do vigário”.
Não podemos ficar felizes por a justiça desportiva portuguesa somente ter reconhecido o “erro”.
Onde estão as consequências? Onde estão os pedidos de desculpa?
Onde estão as indemnizações para Wender e para o Belenenses? É que não é suficiente dizerem “pronto, aqui a malta enganou-se e assim tudo fica bem”. Acresce que nem isso o árbitro Marco Ferreira fez. Nem uma simples declaração de admissão do “erro” ouvi da boca desse senhor que me estragou a tarde de domingo passado. Quando vou assistir a um jogo, tenho a expectativa de que os protagonistas sejam os jogadores. Ao árbitro cumpre a missão de cumprir os regulamentos. O pior é que todos nós, adeptos de futebol, fomos provocados e podiam ter-se cometido actos menos dignos, podia-se ter assistido a manifestações violentas, na sequência de tão “grosseiro erro”. O futebol é um jogo de emoções e, quando se brinca com o fogo, tudo é passível de suceder. Com os nervos em franja e com a razão de se ver um “engano” daquela magnitude, o que teria acontecido se tivesse existido uma invasão de campo? De quem seria a responsabilidade? E se Wender tivesse respondido à tremenda maldade que Marco Ferreira praticou e, de cabeça perdida, o tivesse agredido?

É que os árbitros têm a obrigação de serem bombeiros e não pirómanos com barris de gasolina, nos quais despejam todo o tipo de explosivos.

15.10.08

Paul McCartney não morreu em Abbey Road

Eu pecador me confesso.
Os Beatles nunca fizeram parte da minha discoteca preferida.
Dito isto, assim, a frio, a afirmação soa-me a quase sacrilégio!
Sem inventar desculpas, creio que as compilações que me ofereceram no início dos anos 80 contribuiram bastante para isto.
Tirando esses LP's traumáticos os Beatles nunca foram estranhos para mim o que piora toda esta história.
A minha prima Ana Luísa é grande conhecedora do trabalho dos quatro de Liverpool. Porém, ao contrário de outros nomes que descobri na sua casa (Hank Williams, Woody Guthrie, Bob Dylan, Janis Joplin, Bruce Springsteen, Steve Miller Band e mais uma quantidade de músicos que construiram a música rock do século XX) na realidade os Beatles não me entusiasmaram.
Tinha, inclusivamente, um poster gigante do "Abbey Road" colado numa das paredes do meu quarto em Santiago do Cacém.
Finalmente, tomei uma decisão sábia. Comprei um álbum dos Beatles! Agora tenho o "Abbey Road" em CD e no meu leitor do automóvel. Suponho que vai suceder o mesmo que ocorreu quando adquiri o primeiro disco do Bob Dylan...
Seria inevitável.
E como tomei esta decisão?
Li o artigo do Luís Pinheiro de Almeida no último Blitz, que transborda de sabedoria connosco partilhada e pensei... "É pá, depois de leres o primeiro artigo decente escrito na imprensa musical portuguesa nos últimos 10 anos não podes evitar comprar alguma coisa destes tipos!"
O engraçado é que conheço razoavelmente bem a carreira dos Fab Four, mas nunca me tinha dado para comprar os álbuns de originais!
A verdade, a verdade, é que nunca é tarde para escutar a arte em estado puro.
Ana, estarei perdoado?


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A MORTE DE PAUL MCCARTNEY

Enquanto Jim Morrison e Elvis Presley estariam vivos, no caso de Paul McCartney seria o inverso. Provavelmente este foi o primeiro grande boato na história do rock. Assim, conta a lenda, numa noite de chuva em 1966, Paul McCartney, acabado de sair dos estúdios Abbey Road, conduzia o seu Aston Martin quando sofreu um acidente fatal. No auge da carreira dos Beatles, John, George e Ringo decidiram silenciar o ocorrido e substituiram Paul por um sósia.
As "provas" são evidentes na capa do LP "Abbey Road":
1. Os Beatles estão a atravessar a rua e Paul está com o passo trocado em relação aos outros;
2. Paul está descalço - os mortos não são enterrados com sapatos;
3. Paul está com os olhos fechados;
4. John está todo de branco (simbolizaria um anjo), Ringo de preto (seria um padre) e George de calças de ganga (seria o coveiro!).
5. Paul está a segurar o cigarro na mão direita. Ora, como Paul é canhoto devia estar a segurar o cigarro com a mão esquerda;
6. A música "Come Together" tem uma passagem em que diz: "one and one and one is three" (um mais um mais um são três) o que significaria que "John mais George mais Ringo são três". Não contariam com o Paul, pois ele estaria morto.
7. A matricula do VW branco estacionado na rua é 28IF. Paul teria 28 anos se (IF) estivesse vivo. Além disso estamos a falar de um VW... Beetle.
8. Há um carro funerário estacionado na rua.
Mas, existem, mais "evidências", as quais estão espalhadas na obra dos Beatles desde 1966. Em "Strawberry Fields" surge uma voz abafada em fundo que aparentemente diz "I buried Paul". Em "Glass Onion", John canta que Paul era uma morsa - símbolo da morte em culturas antigas.
O que ainda ninguém sabia até hoje é que toda esta campanha foi dirigida secretamente por Yoko Ono.

9.10.08

Num pequeno seria assim?

Os motivos não são os mais nobres, mas, a polémica gera sempre maior audiência. O que importa referir é que a notícia mais lida no dia de hoje no site do jornal Record foi uma cujo motivo central é o Belenenses. Se o caricato da questão envolvesse outro clube de menor dimensão a afluência para leitura seria semelhante? Tenho sérias dúvidas! O que não compreendo é o pouco espaço que o Belenenses tem nos jornais desportivos diários. Se um clube gera mais de 13 mil visitas a uma notícia - a segunda mais lida é referente ao Porto com 8 mil leituras e a terceira relativa ao Benfica com 7 mil acessos - compreende-se que este "êxito" não é somente uma consequência do Jorge Costa não vir para o Belém dado um suposto telefonema em que o Jorge era trocado pelo Jaime. O Fernando Hidalgo a afirmar "não há mais conversa" também supõe polémica, mas, o interesse despertado é bem menor!

3.10.08

Dias Atlânticos – B52

Os anos voam e nada permanece igual.
Em Santiago do Cacém, conhecemos a modernidade no início dos anos 90, quando surgiu uma discoteca que quebrou preconceitos e inovou em diversos aspectos, inclusive na vertente cultural.
As festas temáticas que os “Dias Atlânticos” organizavam às quintas-feiras proporcionavam algo de único e de mágico.
A enorme imaginação com que eram abordadas essas festas, com decorações feitas à medida de cada acontecimento, elevavam estas noites a momentos únicos. Recordo-me de festas absolutamente inesquecíveis, como a “Festa da Praia” (toda a discoteca transformada em praia com centenas de quilos de areia…), ou de um Dia da Juventude com a actuação dos Ena Pá 2000 (aquando da edição do seu primeiro álbum).
A Antena Miróbriga realizou algumas reportagens em directo e tenho memória de uma semana inteira de directos quando uma piscina gigante foi instalada na zona do parque de estacionamento…
Num destes dias, descobri uma cassete velhinha com alguns excertos de uma reportagem em directo realizada durante a festa dedicada ao B52. Ao bombardeiro norte-americano e à bebida que Luís Lucas trouxera da Noruega.
Mais tarde, o barman Luís Lucas acabou por realizar e apresentar comigo o programa de rádio “Café Rock”. A reportagem foi realizada em conjunto com dois grandes amigos, João Paulo Borges e João Paulo Lourenço. Não me recordo o motivo, mas a gravação consta, basicamente, das minhas intervenções, o que lamento! Este excerto é resultado de uma emissão completamente em directo, inclusivamente, a música que foi escutada era a que estava a ser passada na discoteca. Por falar em música, apesar de datada reparem bem nas escolhas, a dedo, que JAP realizou - um dos proprietários e DJ de excelência. Como lembrança aqui fica o áudio gravado da reportagem realizada no meio do barulho que se pode imaginar...
Belos tempos em que falar alto ainda não era sinónimo de Júlia Pinheiro…

Daqui deixo um abraço ao João Paulo Lourenço, João Paulo Borges e Luís Lucas, amigos com quem não me encontro há anos... e outro abraço para o JAP, verdadeiro exemplo de capacidade visionária que chocou com o atraso do meio onde o projecto foi erguido.





"Com o espiríto nesse filme sempre pop decidi chamar Dias Atlânticos a um espaço nocturno que nasceu para o mundo, no litoral alentejano, em 29 de Maio de 1991. Durou poucos anos mas encheu de noites a vida de muita gente. Naquele tempo, os regulamentos policiais impunham que os estabelecimentos nocturnos encerrassem às 4 da manhã. Por isso, quando a hora chegava, a música calava-se. Quando essa hora chegava o Al Berto deitava-se no pavimento da pista sem abandonar o seu copo de cerveja e gritava “JAP, põe David Bowie!”. E lá tínhamos direito a Young Americans e a chatice com as forças da ordem."
JAP, 6 de Março de 2005

17.9.08

John Watts é e não é Fischer-Z

John Watts quando quer é os Fischer-Z. Quando está a apresentar-se como John Watts é apenas John Watts. Como os dois projectos são encarnados pela mesma pessoa torna-se sempre confuso conseguir saber a que espectáculo se vai assistir. Confuso para nós portugueses porque não existe qualquer dúvida de que a actividade dos Fischer-Z está suspensa desde há alguns anos. No sábado passado, na Amadora, esteve “apenas” John Watts e a sua banda. O concerto foi constituído, esmagadoramente, por músicas novas ainda não editadas. Houve tempo para “Marliese” (o single mais vendido dos Fischer-Z) e para “So Long” (o tema que as rádios das playlists transformaram no maior clássico), além de uma abertura com “The Worker” (o primeiro single de sucesso). De resto, além de outra canção do primeiro álbum dos Fischer-Z, nem sequer o minúsculo “Luton to Lisbon” foi escutado.

Analisar o concerto não é tarefa simples. Porque o público que queria ver Fischer-Z foi levado ao engano por notícias como a publicada num jornal diário e que anunciava:
“A noite conta ainda com o cantautor britânico John Watts, que revisita 25 anos de carreira, na companhia dos Fischer-Z”.
Naturalmente que não houve nenhuma revisitação e nem baixista esteve presente em palco. Unicamente, teclas, guitarra, bateria e voz. Por outro lado, o som da guitarra foi acústico e até o baixo do “So Long” saiu do teclado...

John Watts não actuava em Portugal há bastante tempo e a brincadeira na festa dos 25 da “Febre de Sábado” não passou disso mesmo. Quem nesse concerto esperou pelos Fischer-Z ficou claramente desiludido. Muita gente se recorda ainda dessa desilusão como constatei por observações realizadas por espectadores na Amadora…
Na verdade, os Fischer-Z conseguiram atingir, em Portugal, um patamar elevado de popularidade entre 1979 e 1981. Os seus primeiros três álbuns, “Word Salad” (79), “Going Deaf for a Living” (80) e “Red Skies Over Paradise” (81), foram sucesso por terras lusitanas, tendo culminado no famoso concerto no Estádio de Alvalade, integrado na gigantesca festa do programa “Febre de sábado de manhã”.

Tirando um concerto de menor dimensão, na sequência da edição do CD “Kamikaze Shirt” (93), os Fischer-Z não regressaram mais a solo nacional. Desde então, passaram 15 anos e John Watts tem conseguido manter um peculiar culto em torno de si. As raríssimas edições discográficas que chegam até nós também ajudam a fortalecer esse culto, pois, para o comum dos portugueses, John Watts gravou meia dúzia de discos e retirou-se algures na década de 80, depois de ter lançado qualquer coisa a solo.

Longe de ter estado parado, ao longo destes anos, Watts foi editando álbuns atrás de álbuns, uns em nome dos Fischer-Z, outros enquanto J.M.Watts, Watts ou John Watts. Como se vê, mesmo o trabalho a solo tem conhecido diferentes denominações, o que contribui para este sentimento de nada ter andado a fazer nos últimos 20 anos.

Regressando ao espectáculo na Amadora. Parece-nos que, quando um artista não actua num país faz tanto tempo, devia ter o cuidado de adaptar o seu alinhamento à realidade da ocasião. Que ele não gosta de viver no passado e que prefere olhar sempre para diante já o sabíamos pela conversa que tivemos em 2006. Todavia, a inclusão de mais 3 ou 4 temas dos Fischer-Z seria absolutamente justificável e teria sido desejável - assim como outras canções gravadas a solo ou da fase desconhecida dos Fischer-Z.

Não quer isto dizer que o concerto tenha sido mau ou que o público tenha ficado manifestamente desiludido. Na verdade, sucedeu exactamente o inverso daquilo se seria normal. Mesmo temas absolutamente desconhecidos tiveram direito a uma adesão popular que nos encheu de surpresa. Algumas dessas canções, num registo mais pop, podem mesmo vir a ser fortes comercialmente. Diga-se a este propósito, que temas comercialmente fortes que permanecem desconhecidos sempre foram uma constante na carreira do John Watts. “Jukebox” ou “Destination Paradise” (Fischer-Z), “Brilliant Career” (J.M.Watts) e “Walking The Doberman” (Watts) são músicas de sucesso em qualquer rádio neste planeta, mas, alguém as conhece? Poderia continuar a referir mais uma dúzia como “Over”, “Delight”, “Just Hang On”, “Jesus Give Me Back My Life”, “Human Beings”, “Tightrope”, “Caruso”, “Marguerite Yourcenar” ou “The Perfect Day”.

Mesmo num mercado discográfico em crise, seria interessante disponibilizar um disco com o outro lado da carreira de John Watts. Pelo que assisti na Amadora parece-me que os portugueses estariam receptivos a descobrirem, afinal, o que andou este músico a produzir durante tantos e tantos anos.

Em jeito de despedida, devo dizer que preferia ter estado num concerto eléctrico de Fischer-Z, porém, isto não invalida que tenha gostado bastante de assistir a este espectáculo, mesmo em frente ao palco, com um público fantástico que apoiou os músicos do início ao fim. Foi também motivo de satisfação acompanhar o concerto lado-a-lado com David Ferreira e com Pedro Brinca - ficou quebrada a tradição de encontrar o Pedro, unicamente, nas Noites Ritual.

Espero rever John Watts em breve.



A TVAmadora mostra como foram os concertos. Clicar aqui.






15.9.08

Nesta sociedade de consumo imediato...

No dia 17 de Junho de 2008, foi editado, nos Estados Unidos, o mais recente fenómeno do consumo musical imediato. Refiro-me ao álbum "One Of The Boys", de Katy Perry, de onde se destacou o êxito "I Kissed A Girl". Uma semana antes da edição deste CD, a 9 de Junho, já "I Kissed A Girl" circulava no éter da Miróbriga.
Neste mês de Setembro, já se pode escutar Katy Perry nas nossas rádios nacionais de referência. Nos poucos meses enquanto responsável pelo sector da programação da Miróbriga, além da nova grelha repleta de conteúdos e da nova imagem sonora, existiu algo bem audivel que ficou deste trabalho.
"I Kissed A Girl" foi mais uma aposta vencedora de um conjunto de canções internacionais em que os ouvintes da Miróbriga foram os primeiros portugueses a terem acesso generalizado.
As ondas hertzianas, antigamente, serviam para aproximar continentes distantes e para ajudar a melhor definir a palavra "inovar". Em 2008, apesar de todos os factos negativos que assolam o universo da rádio, ainda acredito que o mundo da rádio não vai morrer.


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Já agora... no dia 22 de Dezembro de 2007, no espaço "Banco de Ensaio", apresentava o álbum "Our Ill Wills" dos Shout Out Louds. Em vez do óbvio "Tonight I Have To Leave It" - que viria semanas depois a tornar-se sucesso nacional devido a um spot televisivo - apostei em "Impossible" como amostra de apresentação. Outra canção que, nos últimos meses, tem conquistado airplay por terras lusas.
A segunda temporada do "Banco de Ensaio" está para breve...





Nota: Espero conseguir inserir em breve um post sobre a actuação de John Watts na Amadora.

10.9.08

Reserva do rock (13)
UHF – Estou de Passagem

1982.
O rock português fechara 1981 em grande e a indústria discográfica registara o maior volume de negócios da sua história.
Sucessos não faltavam e os êxitos populares eram em grande número.
“Cavalos de Corrida”, o single de 1980, havia confirmado a explosão iniciada por “Chico Fininho” de Rui Veloso.
Em 1981, “Rua do Carmo”, do LP “À Flor da Pele”, carimbava as estrelas UHF, como valores maiores na nova constelação dos jovens grupos.
Os concertos multiplicavam-se e a contabilidade de dois anos é impressionante:
A cerca de 80 espectáculos, em 1980, somou-se o record absoluto de 138, em 1981.
Mas, não eram apenas os concertos e os sucessos que se multiplicavam na carreira desta banda de Almada, pois, os anti-corpos do seu líder junto dos media aumentavam exponencialmente.
Verdadeiro enfant-terrible, começa a ganhar fama de intratável e de vedeta.
Alguns críticos questionam, mesmo, as suas qualidades de poeta e de escritor de canções.
A polémica nunca foi palavra vã, nesta encruzilhada da música, sendo mesmo sinónimo de maior popularidade.
A exposição – inclusive por maus motivos – é sempre mais benéfica para a vida de um grupo do que a ausência mediática.
Provocador e rebelde, António Manuel Ribeiro, durante muitos anos, transportará na pele a comparação sistemática com Jim Morrison.
É ele o Rei Lagarto nacional.
Contudo, para quem contacta com ele, é, simultaneamente, afável, competente e extremamente determinado.
No auge da fama e da glória, os UHF entram em estúdio onde gravam o mini-LP “Estou de Passagem”.
“Noites Lisboetas”, “Concerto”, ou o tema título, “Estou de Passagem”, ilustram a razão de novo e esmagador sucesso.

“Estou de Passagem” vende 15 mil unidades em 15 dias e repete o êxito de “À Flor da Pele”, obtendo o galardão de ouro.
Musicalmente, os UHF estão, agora, mais densos e complexos.
Melodicamente, o som está mais “cheio” e completo.
Literariamente, “Estou de Passagem” prova que a poesia de António Manuel Ribeiro não é um acaso, nem um subproduto do auto-convencimento estético.
Este trabalho não possui nenhum tema tão imediato, como foram “Rua do Carmo” e “Cavalos de Corrida”, mas, transporta, dentro de si, dos mais belos momentos que a música moderna portuguesa algum dia criou.