30.9.06

Brincar no fogo

A noite de 23 de Setembro foi bem preenchida. Além do jogo de futebol a que assisti no Restelo, tive o concerto de regresso dos UHF ao Coliseu de Lisboa. Foi uma correria, mas, tirando o ligeiro atraso na chegada ao espectáculo, tudo correu pelo melhor. Acompanhado por Bruno Gonçalves Pereira, assisti a uma grande actuação dos meus amigos António, Ivan, Nando e Toninho. Depois, ainda houve tempo para confraternizar no bar da zona de acesso restrito, tendo o Bruno aproveitado para gravar as vozes do programa Atlântico e restante reportagem a ser transmitida hoje, sábado, na Antena Miróbriga. A noite terminou com uma passagem fugaz pelo “Hard Rock Café”, numa tentativa, fracassada dado o adiantado da hora, de reconfortar o estômago após uma noite sem jantar…
A respeito do concerto dos UHF no Coliseu dos Recreios, redigi um texto que foi publicado no blogue Canal Maldito e que aqui reproduzo.


Como preâmbulo, devo esclarecer que este texto não é uma crónica. Porém, em bom rigor, também não poderei afirmar que se trata de uma crítica a um concerto. No fundo, uma picadora “1, 2, 3” resolverá o enigma. É uma mistura dos dois conforme as variáveis descritas.

Para mostrar que não é critica vamos viajar. Até Santiago do Cacém. Nesta bonita cidade do litoral alentejano, têm desfilado, nos últimos anos, os maiores nomes da nossa música. Xutos & Pontapés, Rui Veloso e David Fonseca foram alguns dos que tocaram no Largo José Afonso. A estes espectáculos ocorrem multidões de milhares de pessoas, capazes de encher, pelo menos, 3 plateias do Coliseu dos Recreios. O público presente oscila entre o bebé e o idoso, entre o urbano e o rural, entre o fã de Floribella e o de Pulp Fiction. Fora de Lisboa ou Porto, é assim que as coisas existem e funcionam. Os concertos de Xutos e de Rui Veloso estiveram apinhados, com os presentes a cantarem e a participarem em quase todos os temas, enquanto que o espectáculo de David Fonseca contou com um largo semi-vazio e com a indiferença de muitos dos presentes. A língua inglesa não ajuda na comunicação com o público do País real, apesar da prestação de David Fonseca ter sido muito positiva. Caso tivesse de escrever alguma crítica, indicaria que o público presente fora em número razoável (1500 a 2000) e que, perante uma assistência que não era a sua, dera um excelente concerto. O parágrafo introdutório teria sido curto e passaria, sem delongas, para a análise do “excelente concerto”. O público que assistiu a David Fonseca seria menos culto do que aquele que vibrou com Rui Veloso ou Xutos? Não. Era o mesmo. Não me interessa se o povo que cantou Rui Veloso era analfabeto ou professor catedrático. Do interior ou do litoral, do meio rural ou do meio urbano, todos me merecem o mesmo respeito e consideração. Podem ter gostos e culturas diferentes, mas isso não faz de uns, imberbes e insignificantes, e dos outros, iluminados e absolutos. O designado “circuito de província” existe e quem não tem sucesso nesse circuito é porque não tem sucesso em Portugal. Além do mais, qual é o músico ou projecto que sobrevive unicamente com concertos em Lisboa e Porto?

Assisti, no Coliseu de Lisboa, na noite do passado sábado, ao espectáculo dos UHF, que serviu para recolha áudio e vídeo, com vista à edição de um CD e DVD. Sem terem contado com a enorme promoção que tiveram há 14 anos (R&B, RFM e TV’s), os UHF jogaram um poker arriscado porque têm estado afastados de Lisboa e Porto e de uma ribalta mediática que influencia, sobretudo, uma adesão urbana. Ao entrar, ligeiramente atrasado, constatei que, ao contrário do sucedido em 1992, a Sala estaria a meio. A meio de lotar e a meio de estar vazia. Meia cheia ou meia vazia consoante a disposição pessoal de quem analise a matéria. Foi uma pena ter existido meia sala vazia porque o concerto foi do melhor que algum dia os UHF deram. Bem preparados, coesos, sem dissidências há largos anos, a banda de Almada surpreendeu pela vitalidade demonstrada. António Manuel Ribeiro, mais velho e seguro na gestão do cansaço, surgiu fresco e com uma voz bem melhor que em 1992. O público presente não estava muito virado para uma testada componente acústica. Também António Côrte-Real, envergando uma T-shirt dos Ramones era espelho disso mesmo. Queriam rock, queriam a prova final de que “UHF é rock”, como era exibido numa das faixas preparadas por fãs vindos de vários pontos do Continente e Ilhas. E queriam tudo o resto que escutaram num desfilar exemplar de grandes músicas uhfianas. No dia em que se escreva a história do rock português, existem temas que serão marcos e muitos deles foram executados de forma brilhante no passado sábado. Os célebres “Rua do Carmo” (1981) ou “Cavalos de Corrida” (1980) não podiam ser esquecidos, assim como outros êxitos - “Hesitar” (1989), “Menina estás à Janela” (1993) ou o recente “Matas-me com o teu Olhar” (2005). Mas houve mais. Houve um grupo que jorrou rock e atitude. “Os Putos Vieram Divertir-se” (2003), “Sarajevo” (1993), “Modelo Fotográfico” (1981), “Sonhos na Estrada de Sintra” (1988), “Rapaz Caleidoscópio” (1981), “Na Tua Cama” (1988), “Fogo (tanto me atrais)” (1988) e “Devo Eu” (1983), numa encruzilhada de épocas e de vivências diversas. E os clássicos que não foram tocados eram suficientes para novo alinhamento! É um facto que este foi dos concertos dados pelos UHF em Lisboa que contou com menos público, todavia, este espectáculo foi melhor do que aquele que ocorreu na mítica sala do Rock Rendez-Vous (1990), na Expo (1998) ou na anterior passagem pelo Coliseu (1992). Foi um risco tocar para um Coliseu a metade. Contudo, o que resultou desse desafio foi um momento memorável e que adia o funeral dos UHF. Os tempos de “Cavalos de Corrida” ficaram para trás. Ainda bem.


UHF no Coliseu de Lisboa. Fotografia: LSO


UHF no Coliseu de Lisboa. Imagem da plateia. Fotografia: BGP


Luís Silva do Ó entrevista  Ivan Cristiano, baterista dos UHF. Fotografia: BGP


Luís Silva do Ó entrevista  António Côrte-Real, guitarrista dos UHF. Fotografia: BGP

29.9.06

Assembleia Geral do Belenenses

Foi ontem à noite que decorreu uma importante Assembleia Geral do Clube de Futebol “Os Belenenses”. Em discussão estava a aprovação do orçamento rectificativo, mas o debate foi muito mais profundo. O número de presentes atingiu quase as 200 pessoas num sinal de crescente interesse, por parte dos sócios, no futuro do clube. Infelizmente, não se vislumbra um projecto consistente e a Assembleia correu bastante mal para a actual Direcção. No final, venceu a abstenção e a aprovação do orçamento rectificativo ficou adiada para a próxima Assembleia.

Foram especialmente aplaudidas as intervenções de Barros Rodrigues e de João Almeida. Tendo ficado sentado ao lado de Henrique R, no final da Assembleia tive o grato prazer de conhecer os consócios Luciano Rodrigues, Jorge Oliveira, Telmo e João Pela.

Cabral Ferreira, Presidente do Belenenses na intervenção final.

Vista parcial das primeiras filas.

João Almeida em primeiro plano e Barros Rodrigues, curvado, a escutarem atentamente Cabral Ferreira

27.9.06

Museu do Seminário de Beja

Os convites do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHADB) são sempre de um bom gosto extremo. Esta imagem justifica, por si só, uma visita ao novo Museu do Seminário de Beja, a inaugurar no próximo dia 10 de Outubro.

Com esta abertura, a Rede Museológica da Diocese de Beja passa a contar com um total de 6 núcleos. A Santiago do Cacém, Cuba, Castro Verde, Moura e Sines soma-se agora este espaço em Beja. Num mundo repleto de aspectos negativos, é de registar o fantástico trabalho realizado pelo Departamento. Daqui endereço os meus parabéns a toda a equipa e, em particular, ao Prof. José António Falcão, amigo de longa data e com quem já tive o privilégio de colaborar em diversas iniciativas - Campos de Trabalho, Conferências, Colóquios, etc...

24.9.06

50 anos de Restelo

O Estádio do Restelo celebrou 50 anos de existência e qualquer adepto do Belenenses que se preze teria de estar presente. Eu e o meu pai lá estivemos a cumprir o ritual de adeptos azuis. Este dia era-me complicado porque há muito que também tinha na minha agenda o concerto de regresso dos UHF ao Coliseu de Lisboa – 14 anos depois. Porém, apesar de ter chegado um pouco atrasado ao espectáculo musical, foi possível estar presente nos dois locais.
Parece ser consensual para adeptos de qualquer clube que o Estádio do Restelo é um dos mais bonitos em todo o mundo e que encanta qualquer pessoa que nele entre. A noite de ontem estava com uma suave neblina que não possibilitou fotografias nítidas das maravilhas que nos envolvem o olhar enquanto estamos neste sublime espaço: Jerónimos, Ponte 25 de Abril, Cristo-Rei, rio Tejo, etc.
Todavia, nem essa pequena neblina, nem o pobre jogo de futebol a que assistimos, foi suficiente para ensombrar a noite de festa.
O melhor de tudo foi mesmo o sentimento de festa e a visita histórica que fizemos à excelente e espectacular sala de troféus. Somente um grande clube como o Belenenses pode ter uma colecção daquelas, que nos faz sonhar com um futuro à altura do passado.
Hoje, não quero falar de tristezas porque as fotografias falam por si mesmas!

Vista Norte do Estádio do Restelo

Estádio do Restelo

Estádio do Restelo e sua fantástica vista

Desfile de Filiais e Núcleos do Belenenses

Estádio do Restelo com o Cristo-Rei ao fundo

Jacinto Maria do Ó nos 50 anos do Estádio do Restelo

Luís Silva do Ó nos 50 anos do mais bonito estádio do mundo

22.9.06

John Watts

Autor de temas como "So Long" e "Marliese", é o mentor da banda britânica Fischer-Z e tem mantido uma regular actividade musical, apesar das poucas notícias que chegam a Portugal.

Saltando entre discos a solo e outros assinados pelos Fischer-Z, John Watts participou na festa dos 25 anos da "Febre de Sábado de manhã", realizada em 28 de Janeiro de 2006, na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico. Aproveitou a ocasião para mostrar temas do seu mais recente duplo-álbum e para recordar os clássicos que o tornaram popular.

Sempre acompanhei a sua carreira e fui adquirindo os trabalhos via importação, primeiro pelos catálogos de lojas alemãs e, mais tarde, com o advento da internet, através da portuguesa CDgo.com - que recomendo pelo elevado grau de variedade do catálogo disponível e pela qualidade com que sempre responderam às minhas encomendas.

Foi, naturalmente, com muito agrado que, na tarde de 28 de Janeiro, entrevistei John Watts, numa das salas do Hotel Tivoli Tejo.

Para quem tenha curiosidade em escutar a entrevista, assim como o trabalho final que resultou da mesma, aqui fica o registo em mp3. A entrevista foi emitida no programa de rádio Atlântico do meu amigo Bruno Gonçalves Pereira.




John Watts e Luís Silva do Ó

John Watts

Bruno Gonçalves Pereira, John Watts e Luís Silva do Ó

20.9.06

UHF em noite azul

Além de diversas entrevistas, ao longo dos tempos, mantenho uma relação de amizade com António Manuel Ribeiro desde há muito.
Quando o entrevistei pela primeira vez, o líder dos UHF transportava consigo uma fama de "mau rapaz" e de "vedeta" pouco recomendável. Porém, na realidade, em 1987, ele era mesmo uma vedeta e uma estrela cintilante no nosso panorama musical. Mais de cem mil discos vendidos com o single "Cavalos de Corrida" (1980) e o longa-duração "À Flor da Pele" (1981) que incluía os sucessos "Rua do Carmo", "Modelo Fotográfico" e "Rapaz Caleidoscópio" eram motivos suficientes para uma histeria colectiva. Contudo, a fama de "mau rapaz" foi conquistada fruto da sua escrita rock de caracteristicas únicas, da identificação constante com Jim Morrison, com uma forte personalidade e com uma determinação e teimosia que persistem nos dias de hoje.
Pelos UHF passaram muitos músicos e, ao correr dos anos, António Manuel Ribeiro sofreu inúmeras críticas devido à sua alegada prepotência. Ainda hoje, muita gente me pergunta como é possível ser seu amigo, ao que respondo com um sorriso, explicando que nem tudo o que se diz é necessariamente verdadeiro. Todavia, mesmo sendo complicado conseguir explicar o que nos leva a ter uma pessoa como amiga, e não a sua vizinha do lado, talvez eu e o António permaneçamos amigos devido à nossa - tão boa e tão má - frontalidade.
O certo é que nunca compreendi o motivo pelo qual António Manuel Ribeiro tem, perante certa comunicação social, a fama de ser complicado de entrevistar. Naturalmente que, dado o estado das coisas, posso até considerar que tal observação seja um elogio.

Vem tudo isto a propósito dos concertos que os UHF vão dar nos Coliseus de Lisboa e Porto. Dentro desse espírito e dessa temática, redigi uma crónica para o blogue Canal Maldito - publicada hoje - que aqui reproduzo.

Catorze anos depois, os UHF vão regressar aos Coliseus de Lisboa e Porto. Desde então, muita coisa mudou no mundo, em Portugal e no grupo. Em 1992, a formação dos UHF era constituída por António Manuel Ribeiro, Renato Júnior, Toninho e pai e filho Espírito Santo, ou seja, Luís Espírito Santo e Nuno Espírito Santo. Agora, em 2006, o líder carismático dos UHF faz-se acompanhar por outros músicos todos eles da geração do seu filho, António Côrte-Real. Curiosamente, a actual formação da banda mantém-se estável há muito, o que confere um nível de coesão inexistente na anterior experiência dos Coliseus.

Para estas duas datas, 23 de Setembro em Lisboa e 5 de Outubro no Porto, os UHF prepararam um espectáculo que ilustra a história da banda, incluindo temas de todas as épocas e de quase todos os álbuns.

Hoje em dia é normal bandas rock incluírem os Coliseus nas suas digressões, todavia, em 1992 tal não era frequente. Recordo-me bem desse concerto no Coliseu de Lisboa há catorze anos, quando os UHF convidaram Jorge Palma, Lena d'Água e Zé Pedro para participarem em cada um dos três actos que o espectáculo encerrava. Se bem me lembro o espectáculo estaria dividido em três andamentos: "a farsa", "o amor" e "o fogo".
Esse concerto correu muito bem, tendo constituído um ponto muito alto na carreira dos UHF.

Recordo também a véspera do concerto de Lisboa em que partilhei uma mesa de quatro lugares num restaurante próximo do Coliseu com António Manuel Ribeiro, Zé Pedro e Jorge Palma. Estavam, todos eles, entusiasmados com o evento e os dois convidados especiais preparavam-se para o ensaio que iria entrar pela madrugada. Como as coisas estavam atrasadas, ainda deu para uma passagem pela casa de Jorge Palma, onde, de volta de uma Ballantines 12 anos, foi possível ver um episódio dos Simpsons.

Antes desse pormenor de pouco relevo, recolhi diversos apontamentos para o meu programa de rádio. Por exemplo, o depoimento de Zé Pedro - muito interessante, esboçando um sorriso à pergunta se não estaria nos planos da sua banda a passagem pelo Coliseu dos Recreios. Que não, disse ele, pois uma sala como o Coliseu não seria propícia a concertos rock. Considerava que os UHF podiam apostar no Coliseu porque tinham muito mais canções calmas do que os Xutos. Em 2006, e depois de várias actuações dos Xutos neste recinto, a opinião de Zé Pedro pode parecer estranha, porém quem se recorde do Portugal de 1992 sabe que, nesses tempos, não era habitual utilizar o Coliseu para concertos rock!

Foi também a curiosidade de ver um grupo de rock português no Coliseu de Lisboa que cativou a presença de muita gente. Ainda mais porque, na época, os UHF já eram considerados veteranos…
A verdade é que o concerto dos UHF não foi acústico, nem repleto de baladas, mas sim rock'n'roll à flor da pele e essa noite ficou na memória do rock português por mais outro motivo, directamente relacionado com a impreparação de concertos rock no Coliseu e com a força do próprio evento. Por certo, foi estabelecido um novo record de cadeiras partidas na mítica sala da Rua das Portas de Santo Antão! Não que o concerto tenha sido violento, pelo contrário, contudo, perante tanta gente aos saltos em cima de tão frágeis cadeiras, outro desfecho não seria previsível. Talvez quem tenha optado por não tirar as cadeiras da plateia tenha também conversado com Zé Pedro na véspera do concerto e deduzido que os UHF iriam fazer um mero concerto acústico.
Foram para cima de cem as cadeiras aniquiladas pelo saudável rock dos UHF.

Naquela noite, quase tudo correu bem aos UHF. O clima da sala esteve ao rubro e as canções foram entoadas do início ao fim por uma audiência participativa e rendida. O som poderia ter estado melhor, porém a performance de músicos e convidados foi quase perfeita. Assumo que, passados catorze anos, estou com imensa curiosidade em assistir a este regresso dos UHF aos Coliseus. Atrevo-me, mesmo, a sugerir este espectáculo, sugestão extensível mesmo àqueles que não nutram grande simpatia pela banda de António Manuel Ribeiro. Não desperdicem esta oportunidade de assistir "ao vivo e a cores" a um concerto do mais controverso grupo do rock português. Podem não ficar fãs, mas certamente vão ser surpreendidos pela força que esta banda de Almada continua a imprimir em palco, sem farsas, com amor e cheios de um intenso fogo rock nas veias.

Foi você que pediu uma noite negra de azul?

19.9.06

O nosso fado é azul

Nós podemos escolher quase tudo nesta vida. Porém, o clube de futebol da nossa preferência é uma opção do coração. No meu caso, sou simpatizante confesso do Belenenses, tendo "herdado" esta paixão de meu pai - adepto azul dos tempos em que o clube era realmente grande e em que lutava para ser campeão. Que saudades deve ele ter de jogadores como Matateu ou Di Pace...
Deixo aqui reproduzida uma crónica minha em que apresento uma primeira aproximação do que defendo para o futuro do tradicional Belém. Este texto foi escrito num destes dias e canalizado para o excelente blogue azul CFBelenenses.

Em jeito de introdução, quero deixá-lo descansado. Esta crónica não se dirige a si. Estou, sim, pensando consigo e analisando todos os outros que, normalmente, participam nos comentários e com os quais o meu amigo discorda.

Como é público e notório participo em blogues azuis há muito pouco tempo e devo dizer, antes de ser acusado de "bota-abaixo" ou de outra coisa qualquer menos simpática, que louvo estes espaços, pois, são muito positivos em face da causa azul que (os) nos move. Porém, quem entre pela primeira vez e faça umas leituras dos comentários inseridos terá a tentação de dividir a maioria dos participantes em quatro grandes classes: aqueles que já foram dirigentes, os que são dirigentes, os que o ambicionam ser e os adeptos puros. A estes quatro tipos de comentadores seria possível acrescentar, ainda, a subclasse barulhenta dos agitadores, que se movem pelo amor ao clube, mesmo que esse sentimento não seja canalizado por ondas neuronais compreensíveis para quem só agora chegou.

Os novatos são assim. Gostam de colocar etiquetas e de dividir em grupos tudo o que desconhecem para que seja possível analisar as coisas e chegar a conclusões. De uma forma mais simples, poderia cometer o sacrilégio de dividir a maioria dos comentadores em dois únicos tipos, aqueles que defendem a gestão actual e os outros que atiram com a direcção para a lama. A fronteira para sarar estas diferenças seria o titulo nacional, mas esse anda arredado há "escassos" 60 anos. Enfim, não devemos desesperar porque somos todos do Belenenses e, também, dignos representantes da pátria de Camões.

Utópico é esperar que todos pensem de igual modo. É bom que pensemos de formas diferentes, ainda que o objectivo seja comum. Contudo, só conseguiremos recolher dividendos das diferenças no dia em todas elas sejam canalizadas para o Belenenses, independentemente de quem dirige ou de quem treina ou joga. Qualquer um de nós sabe que os resultados da equipa de futebol sénior têm piorado ao longo das décadas. Igualmente, estamos conscientes de que o clube tem perdido adeptos e influência. Porém, também sabemos que o Belém possui dimensão nacional, não se resumindo a uma "coisa de bairro". Como diria Carlos do Carmo, em Lisboa já temos Sporting e Benfica, o que torna extremamente complicado fazer singrar um terceiro clube no futebol. Todos entendemos a necessidade de crescer, de nos modernizarmos, de enfrentarmos os problemas de frente e de elaborarmos um projecto com cabeça, tronco e membros. Estes raciocínios são minimamente consensuais e não geram grandes discordâncias porque, no limite, todos queremos ver o Belenenses campeão.

Continuando sem dizer novidade alguma, para que o sucesso seja alcançado precisaremos de reunir um binómio de excelência: equipa directiva e projecto.

Falando de forma abstracta, vamos começar pela equipa directiva. Ao contrário do que muitos escrevem, não creio que seja necessário encontrar um Super-Homem para Presidente. Nem é necessário nenhum génio mediático. Quando Pinto da Costa chegou a presidente do FCP também não era nenhuma figura pública conceituada nem sequer tinha o dom da palavra.
Necessitamos, somente, de alguém sério, competente, incorruptível, que defenda o nosso interesse com "unhas e dentes" e que descubra o segundo segredo para o sucesso, ou seja, que saiba rodear-se de uma equipa multidisciplinar, habilitada, coesa, ambiciosa e profissional.
Inteligentemente, Pinto da Costa aproveitou o embalo de Pedroto, analisou o "mercado" e descobriu o meio de atingir os seus fins. Fez-se acompanhar de um discurso mediático contra o centro do poder no futebol, que era Lisboa. Soube utilizar a "guerra" Norte-Sul de maneira brilhante, transformando um clube de bairro num clube de expressão nacional. No presente, é fácil descortinar o ponto sensível do futebol português e que se chama (falta de) transparência. Quem saiba usar esse discurso mediático e se faça acompanhar de uma estratégia inteligente, irá ter exposição e possibilidade de crescimento. O futebol português cheira mal e prevê-se que este pântano bafiento não dure muito mais tempo. A geração dos actuais e velhos dirigentes está à beira do colapso e a sua substituição será inevitável. Por artes da classificação inacreditável da época passada, o "caso Mateus" colocou-nos na primeira linha dessa luta pela credibilização do futebol lusitano e projectou Cabral Ferreira como representante de uma nova vaga de dirigentes do nosso futebol.

Na vertente do projecto que devemos edificar para o Belenenses, teremos de ser realistas e pragmáticos. Se os outros caçam com cão, nós teremos de ser imaginativos o suficiente para caçarmos com gato. Como sabemos, em qualquer organização existem sempre opiniões e visões contraditórias. Umas ganham e outras perdem. É a vida. Sem entrar no detalhe básico do departamento de futebol ideal (com olheiros e prospecção de novos talentos, camadas jovens, etc.) ou no pormenor de onde deva ficar uma piscina ou um pavilhão, vou exercer o meu próprio direito ao palpite, rumo ao que considero essencial para o sucesso. Poderia elencar cinquenta pontos de relevância difusa, mas, na minha óptica, bastam cinco estruturantes:
- Serviços administrativos profissionalizados, com captação de associados em campanhas de marketing bem delineadas;
- Envolvimento de todos os sócios e simpatizantes, incluindo as organizações colectivas, tais como, filiais, núcleos e claques, num projecto global de colaboração activa com o Clube - dentro da capacidade e disponibilidade de cada um;
- Parcerias com grupos económicos lideres de mercado em Portugal, com entrada, na SAD, de capitais nacionais ou estrangeiros de topo;
- Construção de um Centro de Estágios ou Complexo Desportivo no vizinho concelho de Oeiras em articulação com a Câmara Municipal;
- Projecto imobiliário de grande envergadura que inclua Centro de Escritórios e Centro Comercial de luxo (as Amoreiras do século XXI), gerando considerável receita fixa mensal.

Com a concretização destes dois últimos pontos (Centro de Estágios e Projecto Imobiliário), o Belenenses estaria preparado para todas as conquistas que sonhamos.
Ao longo das últimas décadas, temos mantido um ciclo descendente, perdendo-nos em guerras internas visíveis até nestes blogues azuis e que só dão força a Velhos do Restelo.
O destino pode ser azul, desde que saibamos aproveitar o presente com a mesma ambição de quem partiu de Belém em fantásticas naus e caravelas.
Nós, "Os Belenenses" do século XXI, poderemos retomar caminhos passados com a vontade e a determinação que nos transforma no único clube português capaz de se intrometer entre Benfica, Sporting e Porto.
Estamos à espera do quê para construirmos o futuro?
O nosso fado tem de ser azul.


Link para texto com comentários.

18.9.06

Sotão de vida

Olá a todos.

Neste novo blogue, vou inserir coisas actuais e outras recordações que fui depositando no sotão da minha vida. A vantagem desta localização, deste outro lugar, é que não tem pó, nem se encontra acorrentado a uma determinada temática. Mais do que um arquivo estático, pretende ser uma memória partilhada, revista, actualizada - resultando do cruzamento constante entre Santiago do Cacém e Lisboa.