O outro lugar não nasceu para debater rádio, futebol, música ou política. Existe porque me apeteceu partilhar fragmentos diversos da minha vida. Sem retóricas, sem prazos e sem compromissos que não sejam aqueles que decorram do próprio momento.
A capital de todos nós, Lisboa, inovou por estes dias com o lançamento dos “Jardins Digitais”. Santiago do Cacém podia ter tido este conceito implementado nos primeiros 15 dias de mandato (ver último parágrafo). Era somente um dos imensos aspectos inovadores que o programa incluía.
Decorreu mais de um ano desde a minha aventura nas eleições autárquicas em Santiago do Cacém e apetece-me, talvez motivado por notícias que li e no seguimento de iniciativas a que assisti, dar asas à memória recente. Quando, em Abril de 2005, fui convidado a integrar o grupo responsável pela elaboração do programa eleitoral do partido socialista, jamais imaginaria pertencer a qualquer tipo de lista para as eleições. O simples facto de poder contribuir com ideias para o futuro do meu concelho era motivo mais do que suficiente para aceitar o desafio. A verdade é que, poucas semanas depois, o intenso trabalho que motivou madrugadas sem dormir e deslocações a Santiago em todos os fins-de-semana que mediaram entre Abril e Outubro, acabou por resultar num surpreendente convite para número quatro da lista à Câmara – não sou, nesta altura, vereador por uma nesga. Na altura, auscultei a opinião de amigos próximos e admito ter tido um ou dois dias de reflexão porque, mesmo com o coração no meu concelho, a minha vida está consolidada em Lisboa. Porém, a única resposta coerentemente possível era a afirmativa. Isto porque as sessenta e uma ideias detalhadas, por escrito, ao longo das primeiras duas semanas de reflexão não poderiam ser renegadas nem jogadas para trás das costas. Sabem que não me revejo no discurso do “falam, falam e não fazem nada”. Gosto mais de fazer do que de falar. Ora, o envolvimento só é autêntico se for incondicional e foi essa a lógica da minha decisão. Hoje, faria o mesmo ou, se possível, ainda mais.
Reconheço ter gostado da experiência, do frenesim próprio de uma campanha, do stress, dos sorrisos, do contacto com populares, das conversas com gente do meio urbano e do meio rural. Esquecendo os problemas mecânicos com o automóvel e os custos de tanta deslocação, gostei do pó da estrada – algo normal, não é verdade Ulisses? – e apreciei o conhecimento pessoal que travei com militantes e simpatizantes socialistas. Assim como jamais esquecerei o apoio que fomos recebendo de gente afecta a outros partidos da área democrática e que estavam cientes de que a única alternativa seríamos nós. E, naturalmente, não me esqueço dos meus amigos mais próximos que se empenharam com “unhas e dentes” numa causa que transformaram em sua.
Os resultados eleitorais foram os que foram.
Tenho consciência plena de que o principal derrotado foi o concelho. Mesmo assim, esta equipa de trabalho deixou obra. A maior conquista que sinto desses meses são as ideias que deixámos no papel, no blogue, nos tempos de antena e que serão incontornáveis ao longo da próxima década. Que as ideias sejam bem aproveitadas por quem de direito. Infelizmente, quem não tem engenho dificilmente terá arte. E quem perde, quem é?
Os resultados foram os que foram, são públicos.
Todavia, como acontece no futebol, nem sempre a melhor equipa ganha, nem sempre o melhor projecto é campeão, nem sempre a ambição destrona a apatia, nem sempre o futuro vence um medo fomentado e absorvido até ao tutano.
Os ciclos existem para que se abram e se completem. A minha ligação a esse novo mundo começou nesse jantar de Abril e completou-se na noite eleitoral do ano passado. Foi um período de seis meses de onde ficaram recordações, experiências e amizades que não se apagam pela distância ou pela proximidade. Ciclo iniciado, ciclo fechado. Novos ciclos e novas aventuras se iniciarão em breve porque é assim a vida quando não é feita de monotonia mas de convicção e de sonho.
Este ciclo ficou para trás.
Mas um dia as coisas acontecem. Acreditem…
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