3.11.08
Até quando?
Ser adepto do Belenenses é sinónimo de infinita paciência em relação às equipas de arbitragem. Aliás, na maioria dos nossos jogos fico com a dúvida se os senhores vestidos de amarelo são mesmo árbitros ou actores contratados pelo “Sistema”. Os dotes artísticos destes intervenientes são de tal amplitude que o Óscar de maior “erro” poderia ser atribuído em alguma cerimónia secreta de fim de época, com direito a fruta e a outras iguarias.
Ao longo dos últimos anos, temos sido os bombos de uma festa que, antigamente, tinha multidões nas bancadas e que, agora, apenas conta com uns poucos de masoquistas nas nojentas cadeiras plásticas que os clubes foram obrigados a instalar nos seus estádios. E aqueles que não costumam frequentar estes espaços destinados, alegadamente, à prática de um desporto, podem acreditar que cadeiras nojentas é do menos mau, no que à logística diz respeito, pois, experimentem gastar 20 euros num bilhete e nem papel higiénico terem quando é preciso...
Esta é uma pequena amostra do que vivi - ao vivo e na primeira pessoa - ao deslocar-me, ontem, ao campo do Estrela da Amadora para presenciar um espectáculo de suposto futebol. As gentes da Amadora foram hospitaleiras, viveram, ao meu lado, as peripécias do acontecimento e riram-se imenso com as trapalhadas e invenções a que foram assistindo no decurso de tão animada farra amarela. A actuação dos homens do apito foi de mérito elevado, vaiada como se exigia e até o jornal “Record” tem a lucidez para escrever o óbvio:
“Um erro grave do árbitro Marco Ferreira causa um enorme prejuízo ao Belenenses. Wender recebeu um segundo cartão amarelo por, supostamente, ter tocado a bola com a mão. A falta, no entanto, foi cometida pelo companheiro China, que ainda não tinha cartão.”
Que mais poderemos dizer sobre uma performance de grande nível que, ainda, criou uma grande penalidade - nesse momento, dois adeptos do Amadora disseram-me que, realmente, estava a ser um roubo e, pouco depois, recebi um SMS de um amigo que estava na bancada dos sócios do seu clube - o da casa - a indicar-me que não tinha existido qualquer falta.
Ser adepto azul é ser infinitamente paciente. Habitualmente, após estas peças de teatro, os dirigentes do meu clube afirmam a sua revolta, mas, enquanto pessoas civilizadas, tudo fica exactamente na mesma, até à próxima em que os amarelos se encarregam de voltar a cometer mais e maiores “erros”. A imaginação dos argumentistas é enorme pois existe sempre espaço e ousadia para “enganos”, cada vez mais fantasiosos e dantescos.
Porventura, com tanta, mas tanta, paciência e pachorra, nós, sócios, adeptos e dirigentes do Belenenses, permanecemos sendo motivo de gozo nacional, nesta estroinice ou pândega desenfreada, que aniquila uma coisa que, antigamente, era conhecida por “desporto rei”. O “Sistema” delira em vésperas de jogos azuis e exulta no final das representações sublimes das suas marionetas. Pensamentos pecaminosos como “vamos lá tirar mais uns pontos àqueles palermas do Restelo, a ver se fecham as portas e perdem as peneiras de terem sido campeões nacionais em quatro ocasiões” assolarão as mentes brilhantes dos mestres desta orquestra. Assim como assim, qualquer invenção é protegida pela solidariedade da “classe” em vez de ser por ela combatida para erradicar as ervas daninhas que destroem a fama de todos, inclusive, dos amarelos que são honestos e bons pais de família.
Para quem acha que tudo isto é coincidência será interessante recordar quem é o presidente dos árbitros e o que sucedeu numa noite de inverno de 1997. Foi há 11 anos. Se recuarmos mais um pouco, podemos lembrar o início do campeonato de 1981/82 - época em que, pela primeira vez, descemos de divisão – e, se retrocedermos mais ainda até 1955, alguém se recorda de termos sido espoliados de um golo que nos daria o título nacional?
Pois bem, meus amigos, creio que, passados estes anos de novelas, estará na hora de fazer alguma coisa concreta, objectiva, lúcida e firme.
Está na hora de deixar a atitude de “low-profile” e assumir uma guerra pacífica e positiva pela credibilização de todo este fenómeno chamado futebol.
Está na hora da energia gasta em divergências internas ser utilizada na convergência de interesses comuns.
Está na hora de nos organizarmos e de exigirmos, em uníssono, que as “trapalhadas” terminem de uma vez por todas e que deixemos de ser os “coitadinhos” em que nos querem transformar.
Temos gente válida, honesta, determinada e com valor suficiente para levar a bom porto uma luta que é do nosso interesse e do interesse do futebol português.
Acredito que todos os sócios estarão ao lado dos nossos dirigentes se os mesmos assumirem este combate. Se não o fizermos, ninguém o fará em nosso nome.
Nestes momentos é sempre bom recordar Rui Silva que foi o protagonista no jogo da época passada em que o Belenenses recebeu o Marítimo. Sugiro a audição desta peça que disponibilizei em 25 de Fevereiro de 2008.
Excerto do programa "Bola ao Centro" transmitido em 25/02/2008, na Miróbriga, e com comentários de Jacinto do Ó (Belenenses) e de Sérgio Valadares (Benfica).
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