Ainda o texto anterior estava a ser concluído e surge-me mais uma história que liga, de forma peculiar, os UHF e os Xutos & Pontapés.
Fui hoje surpreendido por um email que me dava conta de mais um caso que envolvia o Blitz e os UHF. Suspirei de alívio… nos últimos meses sempre que escuto a palavra “caso” imagino de imediato que mais alguma coisa estará para suceder ao meu Belenenses. Felizmente, desta vez, a situação era com uma instituição mais habituada a embrulhadas desta índole. Aliás, quando se fala de Blitz e se acrescenta a sigla UHF é porque a situação é polémica. Ou por ao longo de anos ter o então jornal primado por omissões de factos importantes que envolvessem um dos principais grupos portugueses ou por redigirem críticas negativas em relação a muitas das actividades da banda. Felizmente, vivemos em democracia e se hoje os UHF têm menos projecção do que em 1980, na verdade, a Blitz, apesar de ter mudado de sexo, não parece recuperar de uma lenta e contínua agonia.
Vem isto a propósito do título de um artigo de fundo. Mas já lá vamos com certa dose de paciência. Como todos sabemos existem dois grupos que marcaram o rock português de forma intensa. Os primeiros, os UHF, atingiram a fama muito cedo e em 1980 já eram campeões na estrada; os segundos, os Xutos & Pontapés, iniciaram a carreira pouco depois, mas somente conquistaram a glória em 1987. Os primeiros foram sempre um reflexo do seu obstinado líder; os segundos sempre foram um grupo onde todos ocuparam um espaço próprio. Os primeiros eram incómodos, agressivos e nunca conviveram bem com o poder instalado; os segundos foram de punks a comendadores. Os primeiros fizeram a digressão dos 30 anos em 2008, começaram na Aula Magna e finalizaram na Academia Almadense; os segundos fazem este ano a mesma idade e irão terminar a digressão no Estádio do Restelo.
Afinal, qual dos dois teve “30 anos ligado à corrente”? Os primeiros porque foi esse o nome da digressão do ano passado ou os segundos porque uma revista assim o escreve? E porque motivo o Blitz usa essa expressão para destacar os segundos e não esteve presente no dia 20 de Dezembro em Almada para contar como foi a celebração da digressão dos primeiros e que tinha essa exacta designação? O recurso a este título será uma rara coincidência, uma gritante falta de imaginação, um retomar de um amor antigo ou um mero fruto do subconsciente? Como se fosse algo que muito desejamos e que não conseguimos ou que não temos coragem de ter?
A dose de incomodidade entre os UHF e o Blitz remonta a tempos muito antigos. Quando o jornal nasceu eram os UHF a banda “instituição” do rock português. É aceitável que quem queira ser alternativo busque montras independentes e ataque o que é mais popular. Porém, nunca compreendi bem os motivos e jamais se perceberam as razões. Se quisermos ir fundo nas coisas é importante recordar que já em 27 de Novembro de 1984, Rui Monteiro escrevia no número 4 deste jornal, um artigo sobre os UHF e com o título “Sempre as mesmas músicas”. Curioso é que, em 1984, já tinham os UHF editado mais do triplo dos discos que vários grupos “famosos” apadrinhados pelo Blitz conseguiram gravar nas suas vastas e fugazes carreiras. Também engraçado é que o álbum de estúdio seguinte foi apenas o “Noites negras de azul”. Quanto a mais do mesmo, não é uma das vantagens dos predestinados o criarem uma sonoridade que os identifique? Não é assim com os Stones? Não é uma das vantagens dos Xutos dizermos que “esta nova música é mesmo à Xutos?”. Não foi um dos motivos de críticas a projectos como os Taxi, o ser afirmado que “eles mudavam muito de álbum para álbum”? Estaremos defronte da eterna situação de ser preso por ter cão e ser preso por não o ter?
Existem projectos ligados à corrente durante 30 anos e com público nos concertos. Infelizmente, existem outros projectos ligados à corrente só para que se mantenham num estado vegetativo. É a vida nesta nossa pequena indústria musical quando ninguém tem coragem para desligar a máquina.
31.1.09
30 anos ligados à tomada
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