21.2.09

João Grande dos Taxi em 1987

As rádios locais despontavam como cogumelos por todo o território português e Santiago do Cacém não fugiu a esta vaga de democratização do éter. Estive ligado a todos os acontecimentos relacionados com a Miróbriga desde o seu início. Aliás, mesmo antes das primeiras emissões já realizávamos noites experimentais em off como treino. É neste ambiente que, em 1987, avancei em conjunto com Rogério do Ó para a minha primeira experiência radiofónica “a sério”. O nome do programa era “Sobre Tudo” e arrancou em 4 de Abril de 1987. Em cada emissão era abordado um tema diferente com ligação ao universo da música e quando pensámos em aprofundar a música moderna portuguesa vieram-nos à cabeça os dois principais grupos que surgiram aquando do boom do rock português: os UHF e os Taxi.

Foram anos mágicos que a rádio em Portugal viveu. A espontaneidade, a forma abnegada e voluntariosa como tudo era feito, o amor a uma causa que ultrapassava tudo o que se conhecera anteriormente, fizeram com que essa época fosse histórica. Mas o texto presente não pretende falar do universo rádio e muito menos pretende reflectir sobre a sociologia das rádios locais em 1987. Vem esta pequena crónica a propósito das minhas primeiras duas entrevistas.

Admito que comecei em “grande”. Para um puto com 17 anos que sempre adorou rock português e que acompanhou o “boom” de uma forma mais atenta do que os meus 10/11 anos poderiam fazer supor, a possibilidade que tive foi única e pessoalmente histórica. A primeira, em 8 de Março de 1987 com António Manuel Ribeiro dos UHF; a segunda, em 19 de Março de 1987 com João Grande dos Taxi. No espaço de 15 dias, tive a oportunidade de conversar longamente com duas das principais referências da música eléctrica nacional e dois dos principais responsáveis pela “guerra popular” no rock português do início dos anos 80. Com João Grande a conversa decorreu pelo telefone e versou toda a carreira da banda, num momento em que os Taxi se encontravam prestes a editar o seu álbum “The Night”.

Para a entrevista gravada na Albergaria D. Nuno, em Santiago do Cacém, com António Manuel Ribeiro usei um banal gravador portátil que, em conjunto com um calamitoso microfone, conseguiu equalizar as nossas vozes até ao ponto do absurdo. Com João Grande existiu a suprema “sorte” da mesma ser pelo telefone, o que permitiu uma melhor captação e que, ainda hoje, se encontra audível.

Esta conversa com João Grande foi, talvez, uma das suas últimas entrevistas até à “suspensão de actividades” que os Taxi acabaram por decidir após a edição do ignorado álbum “The Night”.

22 anos depois, os Taxi vão regressar aos álbuns de originais. É um regresso que se pode comparar ao disco gravado em 2007 pelos Eagles. Existe toda uma expectativa para aquilatar do que valem hoje os Taxi. Na verdade, este é um risco assumido pelo grupo que poderia ter optado, com sucesso, por “viver dos rendimentos passados”. Como aperitivo do que está para chegar e como recordação da segunda entrevista que fiz na minha vida, deixo-vos um pequeno excerto dessa entrevista com João Grande. Para quem não conhece a história dos Taxi ou para quem apenas quer recordar, parece-me ser um documento interessante. “Não sei se sei” encontra-se disponível para audição no myspace da banda e é interessante notar que este blogue foi o primeiro a realizar uma pequena reflexão acerca do primeiro tema original dos Taxi em 22 anos. A canção também já pode ser escutada na RFM.

A imagem deste post é uma cópia da minha agenda de então. Aqui fica um excerto da conversa com João Grande. Espero que gostem.


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