1982.
O rock português fechara 1981 em grande e a indústria discográfica registara o maior volume de negócios da sua história.
Sucessos não faltavam e os êxitos populares eram em grande número.
“Cavalos de Corrida”, o single de 1980, havia confirmado a explosão iniciada por “Chico Fininho” de Rui Veloso.
Em 1981, “Rua do Carmo”, do LP “À Flor da Pele”, carimbava as estrelas UHF, como valores maiores na nova constelação dos jovens grupos.
Os concertos multiplicavam-se e a contabilidade de dois anos é impressionante:
A cerca de 80 espectáculos, em 1980, somou-se o record absoluto de 138, em 1981.
Mas, não eram apenas os concertos e os sucessos que se multiplicavam na carreira desta banda de Almada, pois, os anti-corpos do seu líder junto dos media aumentavam exponencialmente.
Verdadeiro enfant-terrible, começa a ganhar fama de intratável e de vedeta.
Alguns críticos questionam, mesmo, as suas qualidades de poeta e de escritor de canções.
A polémica nunca foi palavra vã, nesta encruzilhada da música, sendo mesmo sinónimo de maior popularidade.
A exposição – inclusive por maus motivos – é sempre mais benéfica para a vida de um grupo do que a ausência mediática.
Provocador e rebelde, António Manuel Ribeiro, durante muitos anos, transportará na pele a comparação sistemática com Jim Morrison.
É ele o Rei Lagarto nacional.
Contudo, para quem contacta com ele, é, simultaneamente, afável, competente e extremamente determinado.
No auge da fama e da glória, os UHF entram em estúdio onde gravam o mini-LP “Estou de Passagem”.
“Noites Lisboetas”, “Concerto”, ou o tema título, “Estou de Passagem”, ilustram a razão de novo e esmagador sucesso.
“Estou de Passagem” vende 15 mil unidades em 15 dias e repete o êxito de “À Flor da Pele”, obtendo o galardão de ouro.
Musicalmente, os UHF estão, agora, mais densos e complexos.
Melodicamente, o som está mais “cheio” e completo.
Literariamente, “Estou de Passagem” prova que a poesia de António Manuel Ribeiro não é um acaso, nem um subproduto do auto-convencimento estético.
Este trabalho não possui nenhum tema tão imediato, como foram “Rua do Carmo” e “Cavalos de Corrida”, mas, transporta, dentro de si, dos mais belos momentos que a música moderna portuguesa algum dia criou.
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