Os Heróis do Mar – último grande grupo a surgir na vaga do rock português em 1981 – reunia músicos já com alguma experiência.
O baterista, António José Almeida, pertenceu à formação original da banda de rock progressivo Tantra.
Recorde-se que os Tantra, foram o mais importante grupo português, na fase que antecedeu o boom do nosso rock, e, dele faziam parte conceituados nomes como Manuel Cardoso, Armando Gama e Pedro Luís, mais tarde cara-metade dos Da Vince.
O cantor Rui Pregal da Cunha veio de um projecto experimental chamado Colagem Urbana.
Pedro Ayres Magalhães, baixista, e, Paulo Pedro Gonçalves, guitarrista, haviam fundado, em 1977, o primeiro grupo punk português, os Faíscas, que influenciaram nomes como Xutos & Pontapés.
Com a dissolução dos Faíscas em 79, estes dois elementos, juntamente com o teclista Carlos Maria Trindade, formam os Corpo Diplomático.
Em Março de 1981, estes cinco músicos juntaram-se num projecto comum, onde os valores da história e da cultura portuguesa fossem primordiais.
O nome da banda também não foi um acaso, sendo inspirado no hino nacional.
Após poucos meses de ensaios, em Agosto, os Heróis do Mar lançam um single, com os temas “Saudade” e “Brava Dança dos Heróis”, que também viriam a integrar o seu primeiro LP.
“Heróis do Mar” – o álbum – sai ainda nesse ano de 1981 e rebenta a polémica em torno dos alegados ideais fascistas com que são conotados.
O visual da banda, com fardas militares, e as letras das canções, num imaginário colonial, nostálgico e histórico, geram a confusão num Portugal em que a Revolução dos Cravos estava, ainda, bem recente.
Nacionalistas ou patriotas, a dúvida sobres os ideais fascistas ou neo-nazis dos Heróis do Mar, prolongou-se no tempo, apesar das explicações veementes dos seus elementos e da mudança visual operada meses depois.
Lá fora, em Inglaterra, acontece história semelhante com os Spandau Ballet.
A somar às raízes portuguesas, os Heróis foram beber, musicalmente, a sonoridades electrónicas de vanguarda e à corrente neo-romântica dos Duran Duran e dos referidos Spandau Ballet.
Gravado no Angel Studio, em Setembro e Outubro de 81, este trabalho foi produzido pelo mais requisitado produtor de então, António Pinho, responsável, entre outros, pela produção dos primeiros álbuns dos Taxi e de Rui Veloso.
Para além de “Saudade” e de “Brava Dança dos Heróis”, outros temas como “Olhar no Oriente” ou “Amantes Furiosos” marcam este LP, que divide a crítica de então e que não obtém nenhum sucesso significativo junto do público.
O reconhecimento popular vem em Junho do ano seguinte, através do máxi-single “Amor”, um mega-sucesso que obriga à criação do conceito de disco de platina no nosso Pais.
A seguir a um LP sem grande impacto comercial, seguiu-se um pequeno formato com um tema de grande calibre popular.
Por vezes, estes fenómenos acontecem, mas, no caso dos Heróis do Mar, esta foi, apenas, a primeira vez, numa estranha e permanente continuidade futura.
Separar este disco do máxi-single “Amor” seria, manifestamente, errado.
Até porque, com os Heróis do Mar, em rádio, as melodias dos singles ultrapassam as canções contidas nos álbuns.
“Heróis do Mar” – o LP – apresentou-nos um dos mais inovadores grupos nacionais.
Arrojados, polémicos, criativos, sofisticados e com génio.
Com bom ou mau génio serão sempre recordados com “Amor”.
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