3.9.08

Reserva do rock (8)
Rui Veloso e a Banda Sonora – Ar de Rock

Se, nos anos 60, as bandas com uma bateria, baixo e uma ou duas guitarras eram uma constante, os anos 70 vivem tendo por base os “Super Grupos” como Genesis ou Pink Floyd.
Apenas em 1977, com a onda punk, regressa a certeza de se poder fazer música com parcos recursos.
Pouco depois, a new wave mostra que se podem ter temas melódicos, frescos e populares.
Do punk dos Six Pistols à new wave dos Police.
Mas isto era lá fora, no estrangeiro.
Portugal sempre foi um caso muito particular...
O final dos anos 70 é vivido no reflexo cultural do pós 25 de Abril.
Por um lado, a música de intervenção e, por outro, a música pop/ligeira.
José Afonso ou José Cid.
A juventude portuguesa raramente conseguia adquirir um disco condizente com a sua geração.
Os mais informados ouviam a BBC ou buscavam edições sempre esgotadas (!) dos novos discos de Bruce Springsteen.
A Musica & Som, a melhor revista de música que existiu algum dia em Portugal, trazia as novidades, contudo, encontrá-las era bem mais difícil...
No entanto, algo mexia por cá.
Depois de Tantra, Psico ou Go Grall Blues Band começam a aparecer outras edições.
Aqui D’El Rock e UHF gravam, em 1979, com letras em português.
Os Jafu-mega editam, no início de 1980, um álbum ainda todo cantado em inglês.
Especulava-se que o rock não podia ser cantado na nossa língua...
A resposta chega em Julho de 1980 editada pela Valentim de Carvalho.
Rui Veloso e a Banda Sonora rebentam com toda a indústria musical.
“Ar de Rock” – O nome do álbum.
“Chico Fininho” – O rastilho de tão tremendo terramoto.
A letra de “Chico Fininho” é uma ironia ao rock escrito em português.
Contudo, a maior das ironias, é que todo o LP “Ar de Rock” teve de ser reescrito para português, porque Rui Veloso tinha apresentado as maquetes em língua inglesa.

“Ar de Rock”, apesar do marco que representou, não é um disco rock.
A balada de sucesso “Sei de uma Camponesa” ou o tema que abre o disco, “Rapariguinha do Shopping”, não são mais que uma excelente amostra de swing bebendo inspiração nos blues.
Rui Veloso nunca foi um compositor ou cantor rock. Sempre assumiu publicamente as suas influências.
Introvertido, Rui torna-se o “Pai” e o responsável máximo por uma nova geração de músicos.
“Ar de Rock” chega a disco de prata.
Produzido por António Avelar de Pinho, apresentava Carlos Tê, o grande génio da escrita e cara-metade do projecto de Rui Veloso.
Os músicos de suporte, Zé Nabo e Ramon Galarza, formavam a célebre Banda Sonora.
Antes, trabalharam com José Cid e estiveram no mítico “10.000 anos depois entre Vénus e Marte”.
Os trabalhos seguintes provaram que Rui Veloso não é “Chico Fininho”.
Mas “Chico Fininho” foi tão seminal como “Rock Around The Clock” de Bill Halley.
A linguagem, essa, é directa.
Coisas tão banais como “cheio de speed”, “freak”, “shooto”, “curtindo uma trip”, “fareja a judite” ou “flipados” surgem em “Chico Fininho” de uma forma pioneira.
A conversa de rua chega aos discos.
A facilidade de comunicar também.
Nada voltou a ser como era.
“Ar de Rock” foi um estoiro.
“Ar de Rock” marcou o início, definitivo, do Rock Português.

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